Lembranças de Lourenço - Colégio de São Bento. ( nº01 )

Colégio de São Bento.

( memória, 01 )

O Colégio

de São Bento junto ao Largo do mesmo nome, ladeando o Vale do Anahangabaú e o

velho Viaduto Santa Efigenia, por volta de 1966 ou 67, abrigava nos seus cursos

cerca de aproximadamente 800 alunos.

Os anos

eram de chumbo, com a ditadura sofrendo os primeiros reveses, inclusive já com

movimentos libertários armados urbanos.

Ataques a

bancos, hospitais, escolas e lugares públicos indistintamente, variados e

constantes, provocavam pânico à população e enfraquecia as estruturas do regime

que era forte.

À frente

do colégio, no centro da praça, a Telesc à época a Cia. Telefônica de então,

mantinha uma construção com aparelhos telefônicos para uso público.

Os alunos

dos cursos científico e clássico, durante o recreio tinham liberdade de sair

das dependências do colégio para se distrair ou fazer o lanche.

Numa das

salas, na qual ele, que recorda com saudades do tempo que vai longe, havia uma

turma bem unida. Eram aproximadamente uns quinze alunos que, aproveitavam o

recreio para comer e se divertir.

Às vezes,

iam à Rua de São Bento, logradouro que parte do Largo do mesmo nome em direção

sul, paralela ao Vale do Anhangabaú, e lá, após comerem e beberem, algum deles

enchia de água um copo de papel, e dispunha em pé, no meio da via pública, que

proibida para o trafego de veículos, tinha fluxo de pedestre muito intenso.

Após

fixarem no meio da rua o copo cheio d’água, dissolviam a aglomeração de alunos

que cercavam o local enquanto se instalava o copo e voltavam à porta da

lanchonete Dixon, ou algo parecido, e ficavam aguardando quem do anônimos

transeuntes iria derruba-lo, pisando ou chutando e se molhando. E assim, sob aplausos ou vaias,

assistiam ao incidente, que nem sempre era bem aceito pela vítima...

Outra

lembrança inesquecível era que uma das salas de aula, no segundo pavimento,

tinha suas janelas voltadas para um telhado. Em determinadas aulas, de certos

professores menos atentos, os alunos faziam uma rodinha junto ao professor o

distraindo, de forma que um aluno saia pela janela para ir fumar no telhado.

Certa

vez, por razões que não se lembra, um

dos colegas foi esquecido, talvez propositadamente, no telhado...

Outra

lembrança que guarda na memória era a idéia que um grupo de alunos do mesmo

curso e sala, valiam-se da situação politica da época para passar trote e se

livrar da aula. Não era sempre, para não dar na vista.

Paulinho,

filho de um locutor de rádio e apresentador de programa de televisão, muito

malandro, cada 30, 40 ou 60 dias, junto com mais dois ou três, iam ao bureaux

da telefônica em frente ao mosteiro durante o recreio, e disfarçando o timbre

da voz, ligava para o Colégio, dizia que era da Organização Politica que

inventava na hora e, com energia determinava que em 30 minutos deveria ser

esvaziada a escola, pois uma bomba iria explodir nas suas dependências...

Aliás, já

àquela época, São Paulo era uma metrópole vibrante e crescente. E os movimentos políticos atuavam com intensidade

na metrópole, com ataques à bancos, emissoras de rádio e televisão, provocando

insegurança geral, inclusive a empresários e autoridades públicas, muito mal

vistas, por sinal...

Com o fim

do recreio e retorno dos alunos, as aulas eram reiniciadas na hora marcada e os

alunos, primeiros dos cursos fundamentais, eram conduzidos de forma ordeira e

rápida para saída. Eram todos dispensados, chamada a policia e... as aulas

daquela manhã suspensas.

Bons tempos

de traquinagens inocentes. Tempos duros da ditadura cruel que o povo brasileiro

sofreu. Lembranças tiradas das gavetas das memórias que guarda com carinho,

mesmo tendo esquecido detalhes e minucias de fatos daquele anos de chumbo.

Roberto J. Pugliese

www.pugliesegomes.com.br

( publicado no Expresso Vida blogspot )

Roberto J Pugliese
Enviado por Roberto J Pugliese em 21/05/2016
Código do texto: T5642131
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