O MENINO DO SACO I
Passando por uma estrada, dessas que parecem ermas, sem fim. Ali estava ele, sentado em cima de um saco de carvão. Sem aparentar desconforto, sequer esboçava desgosto pelo sol das quinze horas. O sol maior do que todos os sóis. O sol escaldante do sertão.
Estava ali há horas. Perdido em pensamento e cálculos. Desejava que o ‘homem’ chegasse e pagasse o que acreditava que merecia. Passara dias derrubando mato. Preparara a madeira para o fogo. E agora, naquele saco estava o bem merecido suor de seu rosto.
Carvão de melhor qualidade. Desses que não levantam fumaça. Conquistara cada pedaço, com olhos treinados desde pequeno pelo pai que agora já não estava ali para mostrar como fazer. Dependia somente dele cada tacada, que geraria uma boa queimada.
Já não conseguia caça com facilidade. Os tatus pebas já não apareciam na noite. Os nambus não voavam com fartura. As arribaçãs não chegaram. Somente a farinha, rapadura e água do barreiro lhes restaram.
A mãe desfiava pouco a pouco. Depois que o pai foi posto na terra, tudo ficou mais difícil. Ele agora era o homem da casa, apesar de só ter onze anos. Os irmãos eram muito pequenos; De grande só tinham a cabeça, os olhos e a barriga. As pernas e braços cambitavam trotando.
O homem já fazia trato com o pai. E prometera no dia do velório continuar comprando as sacas. Mas, ele por ser tão pequeno não conseguia cobrir a quantia esperada. Por cada saco bambo e folgado, o dinheiro ia sendo adiado.
Mas, a barriga não quer saber disso. Quer comida pelo menos uma vez ao dia. E assim, enquanto o homem saía rebolando nas banhas que as roupas não escondiam. Ele e os que ficaram na taipa, desfiavam e padeciam.
Ione Sak 20/05/16