Rosa do mar

M eu nome é Zacarias, mas, todos me chamam de Zeca, nome esquecido no tempo, não se vê mais meninote com esse nome.Para meus amigos e na minha casa, serei sempre Zeca, economia de letras e de som.Gente pobre é assim mesmo, economiza em tudo.Sou um homem que vive da pesca, possuo uma linda jangada e nela enfrento as águas e a vida.Minha jangada é sabida, parece até que possui uma alma , segue o seu rumo, sobe e desce nas ondas, seguindo sempre o desejo do mar.Penso que o povo do mar deve gostar dela, já que sempre tenho escapado dos perigos.Ela nunca exige muitos reparos ou até, me deu grandes sustos.Eu dei um nome para ela, "Rosa do Mar", bonito nome para uma jangada, só não gravei nela, como fazem nos barcos.Pois é, tenho orgulho de ser o dono da Rosa do Mar, que me custou muitas moedas,mas que me oferece outras de volta.Tudo nesta vida é uma troca.

Bem cedinho eu saio para pescar, a luz da madrugada mal aparece e já estou montado na minha Rosa, ela é meu carro, minha montaria, minha vida, meu ganha pão.Só não acontece isso quando tem tempestade e chuva forte, pois aí é demais.Aprecio muito o salgadinho da água do mar batendo no meu rosto.Não temo os perigos ocultos, só tenho muito respeito.Fiz um colar com pequenas conchas e sempre estou com ele junto ao peito. Consagrei cada conchinha a um santo de minha fé e rezo todos os dias pedindo proteção a eles.Sei que o mar, as vezes, pede uma vida, muitos companheiros meus já foram morar com as entidades lá no fundão .Posso contar eles mais dois que os dedos que tenho.

Quando estou me afastando da praia gosto de olhar minha casinha, erguida quase que na areia.É uma casa pequena , pintadinha de azul, mas que representa o meu mundo.Sei que minha casa me vigia , assim como a Marialva, minha boa companheira de anos.As duas ficam a minha espera todos os dias, posso ver de longe.Quando eu jogo a rede na água eu canto, bem alto, assim as sereias se distraem me ouvindo e não cantam para mim chamando.Gosto de cantar modinhas que falem de amor.Sei muitas cantigas antigas que aprendi com a minha avó, a velha mais velhinha da nossa Vila.Nada mais bonito que um amor enfeitando as nossas vidas.

Nunca procuro pescar demais, só o necessário, não quero desabitar o mar que é tão bom para nós, embora aconteça coisas tristes nele, mas não se pode evitar, já que a vida segue ou para,de acordo com a sina de cada um, não existe outro caminho.Eu não culpo as ondas, já que, desde pequeno vivo embalado por elas, sou um pescador nato. Não sou um homem rico, pelo contrário, mais nunca fui dormir com fome ou com a barriga roncando.O mar sempre me deu o que comer.Suas ondas embalam a minha jangada e a minha vida.Nasci jangadeiro e serei assim até o fim.Sou forte, embora saiba que um dia estarei velho e sem forças, mas,por hora, não quero pensar nisso.Tenho um ciumes danado da minha Rosa do Mar, ela esta sempre firme sob os meus pés, mesmo que salte em ondas bravias.

Gosto muito de uma música antiga que diz assim:e a jangada voltou só...eu penso sobre isso, matuto e termino acreditando que minha Rosa nunca voltará só, mesmo que eu tenha ficado dormindo embaixo da água, bem lá no fundão, pois eu estarei sempre unido as toras, as cordas, a vela da minha jangada querida, onde passo minhas horas, meus dias na labuta diária de um homem do mar e de bem...

lucia verdussen
Enviado por lucia verdussen em 16/05/2016
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