Nota dez
Jairo era um aluno matreiro, que não se furtava a expedientes marginais nos trabalhos e avaliações escolares. Nas aulas de português, o caderninho que o irmão usara dois anos antes, era um companheiro inseparável. É que o mestre costumava repetir algumas atividades, e Jairinho corria às anotações e as reproduzia, obtendo boas notas nessas avaliações de exercícios.
Certa feita, o mestre ensinou à turma como elaborar um abaixo-assinado bem-sucedido. Ministrou a aula, escreveu um texto de exemplo e propôs uma atividade para nota. Ato contínuo, Jairo correu às anotações do irmão e teve uma feliz surpresa. O texto estava lá prontinho. O que agora era tarefa, à época tinha sido o texto exemplar, redigido pelo próprio mestre. Diante do pasmo dos colegas com a presteza na entrega do trabalho, Jairinho ironizou para a turma toda ouvir:
- Exercício facílimo, gente... Além do mais, escrevo bem. Vou ganhar dez!
Na aula seguinte, como de costume, o mestre entregou os trabalhos. Jairinho esperava ansioso o seu grau dez , nota incomum no repertório do mestre, mas naquela situação lhe parecia mais que coerente.
Ninguém ganhara ainda o cobiçado dez, até que o professor – homem de muitas leituras – entrega-lhe o texto, que valeu nota oito.
- Mas professor, não pode ser! – começa o menino, lá da carteira, a fazer sua defesa.
- Como?
- Fiz tudo certinho.
- Mas você não vê que há marcas vermelhas?! Poucas, mas há...
O menino descontrolou-se:
- Mas professor, o texto foi feito pelo senhor.
- Como?
- Copiei do caderno do meu irmão. O senhor escreveu esse texto como modelo.
- Escrevi? Quando?
- Faz dois anos que ele foi seu aluno.
- É por isso, então...
- Como, professor?
- Dois anos é muito tempo. Li novos livros, fiz outros cursos, estou mais sabido, Jairinho. O texto que você me apresentou era o melhor que eu podia fazer naquela época. Hoje...
- Hoje só vale oito...
A turma – que escutava atenta o diálogo – gargalhou e aprendeu a lição.