TARDE DEMAIS 26 - REAÇÃO
Conto de Gustavo do Carmo
Entrou aos quarenta minutos do segundo tempo. Fez o sinal da cruz e pisou com o pé direito no campo de jogo tão logo o juiz auxiliar levantou a placa eletrônica com o seu número e o do seu companheiro de time que ia sair. Foi abraçado pelo colega cansado como cumprimento.
Mal tinha pegado o ritmo da partida quando roubou a bola do adversário e correu para ataque. Driblou meio time adversário até encobrir o goleiro adiantado fazendo o seu primeiro gol após sofrer uma fratura na perna que o deixou parado por seis meses. Quase se afogou no mar de companheiros que correram para abraçá-lo.
Também era o seu primeiro jogo após a contusão. Por isso, precisava voltar aos poucos, pois ainda estava em recuperação. Esteve ameaçado de não disputar o torneio, mas o técnico apostou nele e não o cortou.
Aos quarenta e três matou uma bola no peito pouco antes da grande área e lançou uma bomba indefensável para o arqueiro. Queria comemorar abraçando o técnico mas foi impedido pelo auxiliar. O jogo ainda teria mais cinco minutos de acréscimo e aos quarenta e nove dá outro chutaço, mas a bola bate caprichosamente na trave.
Aos cinquenta, finalmente, Rodríguez repete o lance do primeiro gol e inicia outra arrancada a partir do meio de campo, ainda mais bonita. Desta vez dribla com pedaladas e lençóis, incluindo o goleiro e toca para o gol vazio. O zagueiro do outro time chegou tarde demais na bola.
Já pensava na música evangélica que ia pedir para o programa dominical da TV, mas desistiu. Não tinha clima. Recusou a tão sonhada trilha sonora para quem faz três gols no mesmo jogo porque a reação que ele comandou foi tarde demais. Seu time perdeu por 6x3 e foi eliminado do campeonato, em casa. Estava perdendo por 6x0 e não deu tempo de virar o jogo.