O distintivo de papai
Foi muito menino que tomei conhecimento de um distintivo. Papai, que o portava na lapela do terno com que ia à missa dominical, mostrou-mo, orgulhoso. E até explicou o motivo daquela distinção. Havia participado no Pará de Minas duma efeméride religiosa e o recebera com bênção e indulgência.
Depois, guardou zelosamente numa caixinha, a preciosidade, que constava de uma plaquinha metálica diminuta, amparada num pino-agulha, que possibilitava prendê-la na lapela do paletó de casemira. Na estampa externa, a identificação: algum congresso eucarístico.
E fiquei décadas a fio, pavio e navio, sem rever o distintivo, muito embora sempre soubesse onde estava e por onde se mostrava. E em nosso reencontro, foi pela mão de mamãe que o revi, no fundo da caixinha de madeira, onde papai guardava seus pertences pessoais, junto a um talão de cheques usado - que em seu canhoto ainda exibe a bela grafia do Luiz Velu - o relógio de pulso dourado que eu lhe trouxera de Cingapura, que banhado a ouro eu crera, mas que quimera, já oxidado, porém ainda bem altivo, o distintivo, sem mácula alguma da pátina do tempo.