O JORNALEIRO E A JORNALISTA

Joab observava todos os passos de Aline. A banca deste jornaleiro ficava a poucos metros do prédio da jornalista. Ele cronometrava tudo sobre a vida da moça. Às seis da manhã ela estendia a toália na sacada de seu apartamento. Este era o momento do pós banho. Após 15 minutos, a jornalista descia até o calçadão da praia com o seu poodle de estimação. Ela retornava meia hora depois, subia até o terceiro andar e demorava mais dez minutos. Na sétima hora do novo dia Aline passava na banca e comprava o exemplar do jornal do qual era funcionária. Joab ficava deslumbrado com a beleza da jornalista. Mas diante dela balbuçiava apenas algumas palavras. O cumprimento entre os dois não passava de um "bom dia". Ele não entendia o motivo pelo qual a moça vivia sozinha. A jornalista precisava de um homem vivido, experiente e um verdadeiro protetor de seus interesses. Joab sabia que aquela vida tinha sido uma escolha dela. Quantas vezes o jornaleiro presenciou as discussões entre Aline e os seus namorados. As janelas do apartamento dela foram testemunhas das brigas frequentes. A última briga foi a mais grave. O namorado da jornalista quebrou várias vidraças daquele apartamento. O coitado do poodle foi levado para a casa de uma amiga de Aline. O pobre do cachorro não suportou tanto barulho. Após a partida do causador daquele prejuízo, o cão voltou para o seu lar. O jornaleiro gostava da moça, apesar da diferença de idade de 20 anos. Ele se roía de ciúmes quando às sextas-feiras alguns amigos visitavam o apartamento da jornalista. No final da tarde deste dia, ela reunia os colegas do jornal para um chá da tarde. Joab escutou alguns comentários maliciosos deles e teve vontade de esmurrar todos eles. À noite o jornaleiro sonhava com um encontro com a bela moça. Mas era apenas um sonho. Quando ela passava na banca o jornaleiro ficava trêmulo e com a voz embargada. Joab não se considerava atraente. A estatura baixa e com uma barriguinha saliente não ajudavam naquela conquista. O diálogo, ou melhor, o monólogo entre eles era assim: - Pois é seu Joab, as coisas não estão fáceis, não. O governo continua a perseguição aos pobres. Então, o jornaleiro tentando balbuçiar alguma coisa, dizia: - Ah é, é!. Quando ia completar a frase, eis que chegou um antigo namorado e tirou a atenção dela ao jornaleiro. Joab abaixou a cabeça triste e decepcionado. Então pensou: - Não foi desta vez, mas da próxima vez eu falo com ela. Tenho que tomar coragem. E assim o jornaleiro solitário retomou as suas atividades com a esperança de um dia poder conquistar a bela jornalista.

Levi Oliveira
Enviado por Levi Oliveira em 08/05/2016
Reeditado em 08/05/2016
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