Infinito Terno

Ruído repetitivo até apertar o botão. Seis da manhã. Banho. Cabelo úmido gelado contido por gel. Olhos meio secos. Café; pão nem sempre. Vestir o terno. Metrô lotado. Suor logo cedo. Aos colegas sem atrasos sorridizer "Bom dia!" buscando do fundo alguma alegria. Falsa. É preciso desculpir-se em estátua passivente ante o chefe. Mudomedomudaraiva. Engolir a seco, "(dizem que lá) até o copo d'água é (des)contado!". "Tempo é dinheiro!"; que arrependor! Almoço. Restaurante lotado ou vazio (e caro). Respirar fundo na fila. Barulhar-se entre todo mundo – que aperto! – "(eu sou) só mais um pouco". Pronto. De volta. Agora até o fim da tarde. Tempo (é dinheiro) que não passa. Infinitarde. "Até o infinito tem fim, só por isso a gente pensa nele"; metrô de volta. Uma hora e meia; em casa. Tira o terno, guarda... "Guardar pra quê?! Amanhã tem que usar de novo", tudo bem, não guarda. Banho "pra refrescar". Comer-ver TV. Comover TV. "Como ver TV?! Nada a ver!". Finalmente dormir, se o olho seco pregar, é claro. "Que sensação boa! A gente vai se beijar! Rodopiando juntos, abraçados, coisa boa! Mas que ruído repetitivo é esse?!", desligado ao apertar o botão. Seis da manhã. Banho. Cabelo úmido gelado contido por gel. Olhos meio secos. Café; pão nem sempre. Vestir o terno.

Infinito terno.

Infiniterno.

Infinerno.

Infierno.

Inferno.