A chuva e eu

Estou sentada perto da janela olhando a chuva que bate na vidraça.Faz já alguns dias que chove assim, sem parar,felizes devem estar as plantas nos jardins.Penso que, com tanta água caindo não da para ficar batendo pernas nas ruas, e, como para mim não da mesmo fazer isso, uso como desculpa a chuva, é ela que não deixa.Me contaram sempre que, no dia em que nasci,chovia muito, um temporal daqueles.Parece até que eu sou marcada por esse detalhe.A parteira quando chegou em nossa casa, eu já estava lá, esperando por ela.Uma amiga de minha mãe teve que fazer o parto, ela cortou o meu umbigo e já me dava o primeiro banho enquanto a parteira contava do atraso devido ao tempo.Minha mãe alegou que não era desculpa, que se espera o trem na estação.Houve um entrave entre elas quando a mulher quis receber o contratado, e, na verdade nem sei o que foi resolvido. Diziam que fui uma linda criança, de cabelos negros e boca vermelha,e essa foi a melhor marca da minha vida.

A amiga da minha mãe que me amparou tinha um nome horrivel, e queria, pela sua ajuda, que eu recebesse o seu nome, felizmente,minha mãe não cedeu, e eu recebi o nome de Diana, nome esse de uma moça de uma história em quadrinhos que minha lera e adorara.Eu nunca conheci o meu pai, nem por foto, mas minha mãe falava que ele parecia um artista de novelas.Infelizmente, ele deu no pé, assim que tomou conhecimento que eu estava a caminho.Mamãe era muito jovem e bobinha, alem de ser só nesse mundo de Deus.Eu nem sei como ela conseguiu me criar. Eu cresci junto as outras crianças, filhas de meninas desamparadas e enganadas como minha mãe.Verdade seja dita, nunca me faltou um prato de comida.Sobre estudos, aprendi algumas coisas que me deu para o gasto.Cedo eu aprendi a me virar.Procurei sempre encontrar a felicidade e pouco consegui,e ser feliz, para mim não era pedir muito.

Tive o meu primeiro desgosto aos treze anos, um amigo de minha mãe me tirou a inocência.Foi triste!Mamãe chorou muito.Deus uns tapas no cara e levou outros tantos, nem lembrou de dar parte.Eu superei até que bem o ocorrido, onde vivíamos isso não era tão importante.Arrumei o meu primeiro emprego em uma pensão, eu servia as mesas e levava as louças.Foi por esse tempo que minha mãe partiu dessa vida.Tive que aprender a viver só.Tive várias profissões, boas e más, mas, em nenhuma tirei diploma.O dia mais feliz para mim, foi quando eu conheci

o Fred, que na verdade, chamava Felisberto, que ele achava cafona, e Fred parecia ser nome de rico.Nesse dia que eu chamei "do mais feliz", chovia muito, assim como agora, e Fred era alegre, engraçado e sem juízo como meu pai deve ter sido.Eu o amei muito, teci sonhos, para ele, porem, não representei nada, fui só mais uma.Triste história passageira, e como ele veio, partiu, e nunca mais tive notícias suas. Egoísta e cruel, alem da saudades , me deixou uma marca trágica, essa maldita que me mata agora.Já me falaram que eu não tenho cura, é só esperar o tempo.Não sei se isso me deixa triste ou indiferente.Vida vazia não tem muita importância quase nada.

Estou agora encostada nesta casa, que não é minha, com gente que não me ama, só sente pena de mim.Sou muito grata a todos, tenho um teto, uma manta sobre o meu corpo,não me falta um prato de sopa e tenho essa janela onde a chuva bate.Não sei quanto tempo que ainda me resta.Sou jovem, porem, sombra do que fui,como se o tempo tivesse passado a galope sobre minha vida.Distante estõo os momentos que servia mesa e lavava louças.A vida é mesmo cheia de entraves, cheguei mais cedo nesse mundo, apressada, sem esperar até a parteira, vai que que para ganhar mais um tempinho.Conheci dores quando devia ser tempo de flores, e não aprendi tudo que seria necessário para ser feliz.Ninha mãe também foi assim, apressada como eu.Não fui boa nem má, só gente!Tenho muitas lembranças e poucas saudades.

A chuva lá for aumentou as rajadas na vidraça, mas, o vidro embaçado não me permite ver a água escorrendo.Sinto um pouco de pena de mim,Sempre gostei de pisar nas poças das ruas, de bater os pés na água e ver a mesma espirrando entre os dedos.Não tenho mais força nem animo para tanto.São poucos os momentos de alívio,e me parecem uma dádiva dos céus.Agora mesmo um barulho forte de um trovão me pegou um susto.O raio clareou a vidraça,e um arrepio passou forte em meu corpo, é a febre...meu olhos estão pesados e embaçados também.Eu não sei o nome do mal que me consome, já me falaram,mas, na verdade, eu não quero nem saber.Ter conhecimento do que nos maltrata é como guardar o endereço do lugar onde fomos muito infelizes.Novamente o estrondo de um trovão, o raio e a chuva mais forte ainda.Veio na minha cabeça agora que, foi a chuva que me trouxe, e eu com pressa obedeci, e finalmente, entendi que irei com ela, obedientemente, quando ela se for...

lucia verdussen
Enviado por lucia verdussen em 30/04/2016
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