Tiago, o menino dentro do armário
Tiago, o menino dentro do armário
Pedrinho tinha seis anos. Filho único de mãe separada morava em um minúsculo apartamento com sua mãe a corajosa Ana Paula. Nos dias chuvosos, a pobre mulher não sabia o que fazer. A falta de espaço para Pedrinho brincar, fazia com que ele se espalhasse em suas brincadeiras e brinquedos por todo o apartamento.
Certa tarde Ana Paula levou um tombo. Tropeçou num carrinho que estava no meio do corredor. Aborrecida ela mal conseguia se levantar tamanha a dor que sentia. Gemia alto e o filho tentava se desculpar dizendo assustado: _ Não fui eu que deixei o carrinho ali. Apontava para o armário que ficava no quarto em frente, e dizia: - Foi o Tiago. A mãe assustada perguntou: Tiago? Quem é ele? E Pedrinho respondia: Tiago é o meu amiguinho que estava aqui. A mãe insistiu: - Onde? Ele respondeu apontando para o armário do quarto em frente. – Ali, o Tiago está escondido dentro do armário.
A mãe ainda tentou argumentar dizendo que estavam os dois sozinhos no apartamento que não tinha outra pessoa ali. O menino olhava para o armário e dizia que o culpado do tombo era o Tiago que deixara o carrinho jogado no meio do corredor.
A mãe não deu muita atenção ao que o filho falou. Ela queria mesmo era ficar livre daquela dor insuportável no braço esquerdo. Ao cair Ana Paula não prestou atenção como ficara seu braço. Ao tentar se levantar começou a dor insuportável.
Dez minutos depois ela saia de casa com o filho ao lado. Foi até uma clínica procurar um médico para saber como estava seu braço. O tempo todo que estavam indo para a clínica Pedrinho insistia em dizer que o culpado era o Tiago. Acrescentava que ele era um menino muito levado e gostava de fazer travessuras.
Ana Paula foi atendida na clínica rapidamente. Descobriu que tinha duas fraturas no braço. Antes de ir para casa, telefonou para sua mãe que ao saber do ocorrido deu umas boas risadas. A mãe dela já conhecia a história de Tiago o menino dentro do armário. Pedrinho já tinha lhe contado sobre o amiguinho imaginário. Dois meses se passaram até que Ana Paula se recuperasse totalmente. Ela ficou a maior parte do tempo em casa, pois estava com o braço engessado não podendo ir ao trabalho.
Durante essas férias forçadas, Ana Paula teve a oportunidade de se relacionar com Pedrinho e suas fantasias. Até que um dia antes de voltar ao trabalho levou um tremendo susto. Após o almoço tirou um pequeno cochilo no sofá da sala, ao acordar passava das quatro da tarde. Observou o silencio reinante no apartamento. Imaginou qual seria a aventura que seu filhinho estava experimentando.
O menino aparentemente não estava em nenhum canto do pequeno apartamento. Ela procurou, chamou, e tornou a chamar. Uma luzinha acendeu no seu consciente e ela correu para o quarto e abriu a porta do armário.
Não encontrou Pedrinho, e ficou assustada, esperava encontrá-lo ali.
Escutou a voz de Pedrinho no pátio abaixo de seu prédio. Observou que ele falava com outra pessoa, mas ela não viu quem era. Foi até o menino e passou-lhe um sermão, dizendo-lhe para não sair de casa sem avisar para onde estava indo.
Pedrinho ficou calado, diante da atitude da mãe. PóE começou a dizer cheio de medo. – Eu não fiz nada de errado. Só desci porque o Tiago me chamou. Eu fui.
A mãe ficou perplexa, de novo a historinha do menino Tiago. E assim o tempo foi passando, Pedrinho crescendo. Sempre que aparecia algo errado no dia a dia de brincadeiras e bagunças dentro de casa, o culpado era sempre o Tiago. Até que um dia Pedrinho ultrapassou os limites estabelecidos por Ana Paula. Precisava de um pedaço de fio para usar em uma de suas aventuras. Cortou o fio do telefone e utilizou para amarrar numa caixa de sapatos para fazer um robô.
Ana Paula pegou o chinelo e ameaçou dar umas boas chineladas no bumbum do filho. Ele saiu bem de mansinho sem que ela percebesse e se escondeu.
Ana Paula o deixou ele ficar lá escondido até que se cansasse . Nem se deu ao trabalho de procurar. Poderia estar em baixo da cama, ou no minúsculo banheiro de empregada. Algumas horas se passaram, e Ana Paula ouviu a porta do armário se abrir e Pedrinho ir ao chão. Ele tinha tirado um cochilo enquanto estava escondido dentro do armário. Ao avistar a mãe à sua frente foi logo dizendo: - Foi ele, mamãe, foi ele que cortou o fio do telefone. Foi o Tiago.
A mãe ficou sem jeito de castigar o filho. Lembrou-se de quantas vezes em sua distante infância brincava com duas amiguinhas imaginárias. Tinha dias que sua mãe até pensava que tinha alguém ao seu lado tão real se tornava a imitação que ela fazia das vozes dos coleguinhas.
O tempo passou Pedrinho cresceu. Tornou-se um adolescente muito falante e agitado. Quando vinha da escola e fazia algo que a mãe não concordava sempre dizia: O culpado foi o Tiago.
Para Ana Paula,Tiago era aquela parte de Pedrinho que não queria crescer e gostava de ficar trancado no armário . Muitos anos depois Tiago manifestou-se na casa espírita que Pedrinho freqüentava e estudava a doutrina Kardecista. Tiago era um de seus mentores espirituais que lhe acompanhava desde o nascimento e inúmeras vezes conversava com Pedrinho, fazendo-lhe companhia.