ADEUS
ADEUS
"Vai ficar tudo bem, eu prometo". Disse Teresa enquanto via a mãe agonizar ao chão.
A verdade é que ela estava apavorada e tentando manter a calma enquanto o socorro médico chegava.
Teresa chegou à casa de Dona Adalgisa e encontrou-a caída ao chão. Junto dela, uma caixa de comprimidos aberta e uma garrafa de uísque. A filha sabia bem do que se tratava: Adalgisa tentara suicídio. Mas por que uma senhora distinta como ela tentaria suicídio? Tudo isto era um grande mistério. A filha olhava fixamente para a mãe, esperando que esta esboçasse alguma reação.
- Filha?...Teresa, é você? - perguntou a voz trêmula e fraca de Adalgisa.
- Mamãe! Sou eu. Por favor, resista! Resista! Estou aqui. Os médicos chegarão logo, eu prometo! - respondeu, eufórica, a filha.
- Eu preciso lhe contar algo. É importante. Você precisa saber... - declarou a mãe.
Mas, Teresa a interrompeu dizendo:
- Não! Não faça esforço. Você precisa se acalmar.
- Eu preciso... Por favor…
A jovem fixou ainda mais o olhar sobre a mãe. Suas ações eram meticulosas.
- O que é tão importante assim, que você não pode deixar para depois? - perguntou.
- Minha filha, não tenho muito tempo e preciso...contar logo. Esses comprimidos unidos ao uísque farão efeito rapidamente. Não temos tempo a perder. - respondeu Adalgisa.
- Tudo bem, mãe. Pode falar. - respondeu Teresa.
- Filha, antes de tudo, preciso de uma coisa. Não julgue meus atos, pois você não sabe as circunstâncias pelas quais isso aconteceu, portanto, peço apenas que ouça. - suplicou Adalgisa.
- Mas, por quê? O que é tão complicado assim? - indagou a filha.
- Teresa, apenas escute! É importante. - exclamou.
- Certo. Estou pronta - respondeu, chorando, a filha.
Dona Adalgisa sabia que o assunto deixaria Teresa arrasada, mas precisava contar, não poderia morrer com o segredo.
- Teresa, antes de conhecer seu pai, eu trabalhava em um clube. - disse Adalgisa.
- Como assim? Um clube… tipo um resort? - indagou a filha.
- Não, exatamente. - respondeu desviando o olhar para uma fotografia de família pendurada na sala.
- Então, era o quê? - perguntou Teresa.
- Era um cabaret, um local onde fazia shows sensuais para homens. - declarou Adalgisa.
Teresa olhou para mãe com desprezo. Levantou-se, levou as mão à cabeça enquanto tentava digerir o que ouvira de Adalgisa.
- Por que, mamãe? Dançarina de cabaret? Não acredito. - disse a filha enquanto esmurrava a parede - O papai sabia disso?
O pai de Teresa, o senhor Alfredo, faleceu por conta de um infarto fulminante e não conseguiu resistir antes de chegar ao hospital.
- Não, querida. Seu pai nunca soube de nada. Depois que o conheci, deixei de dançar no clube. - disse a mãe - Mas, ainda tem outra coisa que ele não sabia.
- Ainda tem mais? - perguntou Teresa.
- Não fale assim comigo! - retrucou Adalgisa - Tive meus motivos e quero que entenda.
- O que mais eu preciso saber? - interpelou a filha.
- É sobre seu pai… seu verdadeiro pai. - disse, cuidadosamente, dona Adalgisa.
- Isso é impossível! Não...não é verdade! Diz que não é verdade, diz! - retrucou Teresa, aos gritos.
- Você não é filha do Alfredo. - declarou a mãe delicadamente. - Quando me casei com seu pai, já estava grávida, mas não era dele.
- Mas, mãe...como você pode ter sido capaz de fazer isso com o papai? Não consigo acreditar. - declarou Teresa.
- Minha filha, eu me arrependo profundamente de não ter contado a verdade ao seu pai. Mas, estou aqui, prestes à morrer, pedindo que me perdoe pelo que fiz. - suplicou Adalgisa já cansada.
- Mamãe, você me magoou muito com essas revelações. Estou devastada por dentro. - disse a filha - Mas, você é minha mãe e eu te amo muito. Nada vai mudar isso. É lógico que levarei um tempo para poder assimilar tudo o que ouvi aqui, no entanto, o que sinto pela senhora é maior que tudo isso. - disse enquanto abraçava fortemente sua mãe.
- Você não sabe o quanto estou feliz… já posso ir em paz, minha querida. Eu te amo, para sempre. - falou dona Adalgisa em tom de despedida.
Adalgisa não resistiu à ação dos medicamentos em overdose adicionados ao uísque que tomou. A filha não conteve as lágrimas. “Por que ela se matou?”, perguntava-se Teresa. Uma pergunta sem resposta.
A filha apenas fechou os olhos da mãe até que a ambulância chegou.
Um dos enfermeiros encontrou algo de diferente em uma das mãos de Adalgisa:
- Senhora, encontramos este papel na mão de sua mãe. Provavelmente ela o estava segurando.
- Obrigado. Pode deixar comigo.
O bilhete dizia o seguinte:
“Filhinha, te amo por demais. Seja feliz. Este é o endereço do seu pai, caso deseje conhecê-lo”.
Após ler o bilhete, Teresa esboçou um início de sorriso que foi interrompido pelo enfermeiro:
- A senhora não vai nos acompanhar?
- Vou sim. Só preciso me trocar.
“Adeus, mãe. Te amo. Pra sempre”.
***Continua em "ENCONTRO".***