NO VELÓRIO


Chorava muito. Durante todo o tempo em que esteve no velório, derramou muitas lágrimas. Viera porque o finado era seu vizinho e sentiu ser seu dever trazer algum conforto à viúva e às filhas, que conhecia há muitos anos. Mas ela mesma se surpreendeu ao se ver chorando. É claro que não era pelo morto, mas por suas próprias perdas recentes: o marido a quem tanto amara e a mãe, com quem era tão apegada.

Mas quem entenderia? Logo se deu conta de que suas lágrimas naquele momento podiam suscitar comentários. O que diriam as pessoas presentes? Poderiam pensar que ela tivera um caso com esse homem que ali jazia no caixão. Percebeu os olhares inquiridores e sentiu-se muito desconfortável.

Fez um último esforço para se conter, mas não parou de chorar. Então, deixou a capela mortuária e saiu para o jardim. Aspirou um ar mais puro do que aquele que a oprimia e que rescendia a velas que queimavam e flores das coroas que já começavam a murchar.

Sentiu-se melhor e foi embora sem esperar pelo enterro. Mas ainda chorava...




 
Aloysia
Enviado por Aloysia em 21/04/2016
Reeditado em 21/04/2016
Código do texto: T5611706
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