MEU AMADO PAI
Acabei de derramar uma lágrima. Meu pai morreu. Ele era tão perfeito, tão feliz, não entendo porque ele tinha que morrer. Bem agora que eu ia contar pra ele, que também vou ser pai. Minha mulher está grávida e eu quero um menino. Mas agora que eu estou tão feliz pelo meu filho, que vai chegar a esse mundo. Agora que eu estou totalmente embriagado com a mágica do nascimento, a escuridão da morte tinha que aparecer? Ele era tão lindo e agora serve de alimento aos vermes. Ainda me lembro daquele conselho dado em uma noite chuvosa, depois de uma sessão de brigas, entre ele e minha madrasta, ele me falou que a vida não é justa para com àqueles que não conseguem concordar com o rumo que ela toma. Essas pessoas sempre estarão infelizes, foi assim que ele me disse; desde então minha vida me fez chorar, sorrir também, mas eu nunca me indaguei sobre o que, que a vida tava querendo me mostrar. Segui o conselho de maneira errada, o que ele tava querendo dizer, que não importa, quantas pedras a vida me imponha, tenho sempre que usá-las para fazer uma escada, e não ficar perguntando pra vida o porquê, e nem se é justo ou não, a vida não espera.
Ontem a noite estava tão triste e com uma saudade imensa do meu pai, pensei em ligar pra ele, desejar boa- noite, perguntar se ele queria alguma coisa, mas não fiz nada disse, eu ia vê-lo hoje em nosso antiquário, e eu tinha tanta coisa pra fazer, aliás, ver televisão e namorar era mais importante que meu pai, ele podia esperar, eu e minhas coisas não. Mesmo durante a noite meu pai não saia da minha cabeça, mas nem abri meus olhos para ligar pra ele. O dia amanheceu, tomei meu café e fui pra loja, meu estava como sempre, sentado em sua cadeira fazendo suas contas na caixa registradora, disse apenas bom-dia, estava com tanta presa. Eu bem que podia ter-lhe dado um enorme beijo, e um apertadíssimo abraço. Mas os deveres me chamavam, sendo assim, nosso diálogo ficou apenas nesse seco bom-dia. O dia foi passando, e eu correndo pra poder chegar na, minha casa, e abraçar minha mulher e meu querido filho, ainda no ventre de sua mãe. Falei um tchau acanhado e cansado pro meu pai, se eu soubesse que aquele momento seria o último em que eu veria meu pai, ele estava sentado em sua cadeira, ainda somando os lucros do dia, com o semblante calmo e triste, com um rosto de cansado, não cansado do dia exaustivo, mas sim, dos anos que ele carregava em cada linha de expressão, em seu rosto choroso. Ele vestia sua camisa pólo na cor vermelha já bem desbotada e de hora em hora, sempre olhava em seu relógio, herança de família, como se ele estivesse sempre atrasado, cabelos brancos, e olhos negros, que se destacava na brancura de sua pessoa. Ah se eu soubesse, teria falado que ele era o melhor pai do mundo, e que eu o amo tanto, que não saberia como seria minha vida sem seu exemplo.
Cheguei em casa, e desprezei o convite de meu pai, para um jantar em sua moradia, estava tão cansado, beijei minha esposa na sua linda barriga já começando à crescer, tomei um banho eu fui dormir. Nem liguei pra ele pedindo desculpas, pois amanhã eu o veria novamente. Qual não foi minha surpresa, quando o telefone toca, olhei no relógio, ainda eram duas horas da manhã, pensei palavras de baixo escalão naquele momento, que só não disse por que estava com tanto sono. Atendi. Uma voz fria me perguntava se eu era parente do Sr. Anselmo Dias, e eu, respondi que sim. Falei que ele era o meu pai. Àquela voz me dizia que ele se encontrava no leito do hospital vítima de uma parada cardíaca, e que todos os procedimentos haviam sido tomados. Nunca cheguei em um lugar tão rápido, as duas e quarenta já estava segurando a mão do meu querido pai, ele estava pálido, inconsciente, mas seu semblante era de quem estava descansando. Fiquei sabendo que foi o Sr. Gomes que o trouxe ao hospital, ele era um companheiro de cartas do meu pai. Ele o trouxe ao hospital, não eu. Eu não estava lá quando meu pai precisou, também, nunca estive em momento nenhum. Alguns momento depois de minha chegada á seu leito, meu amado pai não agüentou. Morreu. E eu nem disse que ia ser pai. Estava sempre tão cansado, nem falei que o amava, muito menos, que sentia orgulho de ser seu filho. Ele morreu sem escutar isso, muitos tinham falado isso, menos eu. Menos seu filho.
Hoje chorando enquanto vejo as fotos da família, fico pensando, será que meu amado filho vai ver seu pai morrer sem falar o quanto ele o ama? Será que ele vai repetir o mesmo erro de seu pai? Não sei. Apenas sei, que eu vou morrer sem dizer “Eu Te Amo”para meu ‘Pai’.