Guarda-chuva
Caminhando para casa naquela noite escura e chuvosa, notou que seu recém-adquirido guarda-chuvas havia entortado. Praguejou em silêncio durante alguns instantes - suficientes para evocarem a memória daquele conto escrito há mais de três anos - o guarda-chuva. Apesar de toscamente rabiscado, o guarda-chuva já dizia ser maior do que aquilo.
As linhas contavam (ou tentaram contar) como o seu transtorno obsessivo compulsivo lhe obrigava a manter sempre tudo em ordem e a dobrar minuciosamente o objeto, fazendo-o vestir-se à perfeição ao seu estojo. Mas não naquele dia. Naquele dia ele pegou seu guarda-chuvas, abriu-o, usou-o e devolveu todo roto, de forma que sua caixa já não lhe servia. Daquele dia em diante sua vida nunca mais foi a mesma. Percebeu que não precisava mais dobrar nada à perfeição - uma vez que essa não existia - e que não havia mais sentido algum colocá-lo no estojo, agora inútil.
Na noite chuvosa, onde o mundo parecia querer lhe dobrar, os ventos lembraram que o estojo não evitava os danos, de fato. Seu uso era uma mera convenção entre os fabricantes de guarda-chuvas para se protegerem de possíveis processos e reclamações de produtos quebrados. "O próximo não terá estojo".