Pobre, sem fama e feliz
O sonho era ser alguém, isto é ser bacana, polido e ter muito dinheiro, ter um cargo de alto escalão. Depois os filhos serem criaturas felizes, protegidas e até invejadas.
A mulher até mesmo ser madame dessa chiquérrima. Todo dia na mesa, iguarias e mais iguarias de satisfazer o paladar, a bebida, que cachaça que nada, tinha de ser uísque se possível importado, vinhos seria daqueles puríssimos, ou até caríssimos, só mesmo os importados.
Esse sonhador era o seu João, morava no seu simples sítio a poucos quilômetros da cidade. Sentado na cadeira em seu merecido repouso na sua varanda, via seus filhos brincarem, Joãozinho de 14 anos, Orlando de 17 anos e Aninha de 23. Todos até pouco tempo despreocupados descalços corriam pelos verdes pastos onde deleitavam também alguns animais. Agora além de todos eles gostarem muito de estudar ainda ajuda ele na lavoura e cuidar dos animais.
No devaneio daquele sonho acordado sobre riqueza e poder, o senhor João de repente tem uma ideia, comenta com ele mesmo:
--- Caramba! Eu tenho um amigo ricaço, o deputado Forlam, seria bom conversar com ele, isto é se ele ainda me considerar como amigo, não custa nada tentar, vou telefonar:
--- Alô, é Forlam?
--- Sim, ele mesmo, quem fala?
--- Aqui é o João, não lembra de mim?
--- Claro que lembro, como iria esquecer de você, João! Ainda continuo te considerando um dos meus melhores amigos. Este teu telefonema me caiu dos céus. Estava numa tristeza danada, agora talvez até vai ajudar a curar minha depressão.
João deu um pulo de sua cadeira. Ficou em pé ainda com o aparelho no ouvido perguntou:
--- Tristeza, depressão? Mas você conseguiu tudo o que queria, riqueza, fama, por teres uma inteligência privilegiada, teus filhos pelo que sei alguns foram até estudar no exterior. Sua esposa com todo o respeito encantadora! Me explique melhor. Ou quer trocar comigo? Rsss... rss...
--- Ah! Meu amigo, trocaria minha riqueza toda pela sua vida que é simples e bela! Na verdade eu sempre lutei pelo sucesso, mas não consigo explicar o meu verdadeiro insucesso. Você sabe que praticamente já nasci na classe alta, para muitos isto é berço de ouro. Entrei na carreira política com verdadeiro furor. Fui contemplado sendo deputado, no começo até que queria ser um verdadeiro representante do povo, tinha noções do valor incontestável da honestidade, mas não deu jeito, tive de embarcar em algumas malandragens, foram poucas, para provar isso fui absolvido em vários processos. Minha consciência me martela constantemente: - porque não primei nos mínimos detalhes pelo meu conceito de honestidade? – porque não recusei no ato os “amigos” importantes que me induziam nos pequenos atos da corrupção?
Até aí não me atingiu drasticamente, como diz o ditado tiraria de letra. Mas escute bem veio o pior que poderia acontecer na vida do ser humano: a intensa crise familiar:
-- Guerra acirrada entre eu e minha esposa até a separação.
- minha filha hoje com 25 anos estudou, formou com louvor por causa de sua inteligência incontestável, está no exterior, mas se envolveu com alguns grupos radicais tentei parlamentar com ela pra ver sairia desse labirinto, sua resposta é sempre a mesma:
--- Pai, não deixei de amar você, mas minhas ideias minhas noções de valores agora são outras.
- meu filho com 22 anos estudou também e muito, tranquilamente teria sucesso onde engajasse, mas se envolveu em assuntos que nem é bom falar.
- O outro meu filho com 19 anos, praticamente concluiu os estudos, agora totalmente envolvido em todas as malandragens desse mundo à fora. (a voz do outro lado da linha demonstrava claramente um alto grau de tristeza) então João ainda quer trocar sua vida comigo? Vou pedir para o papai do céu pelo menos no sonho fazer essa caridade comigo...
Seu João como era um pouco emotivo, não continha as lágrimas que teimavam em derramar. Sentia envergonhado, algo ou pode ser seu anjo da guarda lhe falando na sua mente:
--- Tá vendo? És feliz e não tinhas consciência disso!!!...
Completamente estupefato, senhor João entra porta a dentro e vê sua esposa dona Ana com seu avental fazendo o almoço tão esperado. Nota de imediato que via nela uma lindeza sem par, em tudo dessas belezas que passam os anos e jamais desaparecem. Ela nota o maridão lhe encarando, quieto e pergunta:
--- O que foi, João, perdeu alguma coisa?
--- Não, mulher, estou vendo que és muito importante para mim, não te trocaria por nada...
--- E, homem, você tem cada uma!...
E TERMINA A HISTÓRIA. QUALQUER SEMELHANÇA, NOS FATOS, ATÉ NOS NOMES SERIA UMA MERA COINCIDÊNCIA. APESAR DE SEMPRE DIZER QUE AS HISTÓRIAS HUMANAS SÃO INDIVIDUAIS, MAS AS SEMELHANÇAS SÃO INCRÍVEIS...