O TOMBO

O TOMBO

Antes de tirarem conclusões precipitadas devo alertá-los de que não foi a fome que me empurrou, foi a velhice debilitada que me puxou.

Sentado no asfalto, vendo o sangue pingar do cotovelo, gemendo devido à dor no joelho, fiz uma retrospectiva daquela situação.

Se tivesse antecipado alguns minutos, a ida para o restaurante é provável que o tombo fosse diferente e menos desastroso para mim. Mas o imponderável “SE” entra na equação. Ou quem sabe se tivesse atrasado uma meia hora, talvez caísse de ponta cabeça, quebrasse o pescoço, tivesse fratura craniana... mais uma vez o “SE” entra no cálculo, o que iguala as probabilidades; e não dá zebra.

Na minha concepção o azar pode ser medido até a proporção de meio a meio com a sorte, basta que se escolha qual dos dois nos acompanhar. Neste imbróglio específico abusei da matemática, não escolhi antes, e deu no que deu, uma queda que a ciência não está nem aí, e a física deixa para a medicina os cuidados necessários.

Tudo aconteceu a meio caminho entre o prédio do restaurante e os da administração e laboratórios, onde trabalho. Ia para o almoço, coisa de 11:15 h. O prédio do restaurante dista dos outros mais ou menos oitenta metros; ainda existe o agravante de uma escada de nove degraus, bem no meio do percurso, devido declive acentuado para o sentido do dito cujo restaurante.

Infiro que as pernas brocas, devido o uso (59 anos de vai e vem), bambearam, tremeram e levaram meu corpo a cair junto com elas.

Acordei com dor nos joelhos, realmente e literalmente.