O artista agradece
Esperei o sinal fechar para atravessar a rua. Olhando em volta, percebi que o artista estava lá mais uma vez, como fazia todos os dias, um após o outro. Quando o sinal ficou vermelho, decidi não atravessá-lo, e fiquei parado observando ele lançar o bastão de fogo para cima o mais alto que conseguia, para depois pegá-lo quando caísse. Outras pessoas também olhavam para ele, algumas com admiração, outras com pena. Algumas nem mesmo olhavam.
Mesmo assim o artista se curvou em agradecimento, e depois caminhou entre os carros aguardando uma pequena contribuição pelo seu desempenho. Dei-lhe uma moeda. O rapaz que estava dentro do carro ao meu lado me olhou como se estivesse me repreendendo pelo que fiz. Virei-me na direção dele.
- Você não vê o brilho dele? Não vê a luz que ele tem?
- Brilho? Que brilho? E que luz é essa? Claro que não!- rebateu o rapaz, assustado.
- É uma pena, pois eu vejo! – e sorri como não sorria há muito tempo.
O rapaz do carro, com ar de deboche, pisou no acelerador assim que o sinal ficou verde e sumiu logo após dobrar a esquina. O artista havia voltado para a calçada oposta e estava preparando o bastão para a próxima apresentação. Em seguida, retirou as moedas do bolso e as guardou em uma mochila já surrada pelo vasto tempo de uso. Depois olhou para o céu e disse algo que não pude compreender, e então o sinal fechou novamente. Peguei outra moeda.