Noite enluarada
Era noite enluarada...
A quietude da noite, o clima de frescor, a brisa suave, o clarão da lua – uma luz prateada - o cheiro da mata, tudo isso inebriavam àquele cavaleiro solitário que seguia sob o lombo do seu cavalo, passos à trote.
As noites enluaradas daquele sertão, principalmente no período de verão, tinha uma beleza ímpar, capaz de sensibilizar de maneira romântica, até o mais árido coração.
O silêncio daquela noite só era quebrado pelo latido de algum cão ao longe ou o cantar dos curiangos que volta e meia atravessavam à frente da sua montaria ou ainda, pelo piar de alguma coruja e claro, pela toada dos cascos do seu cavalo.
Essas pequenas viagens, por mais singelas que fossem , tornavam motivo de prazer, mesmo que à trabalho, pois não havia inquietação, desassossego, preocupação com assaltos, roubos, tocaias, assassinatos, etc. A vida por aquelas paragens era envolvida de paz e harmonia, quebrada apenas com raras exceções.
O cavaleiro seguia tranquilo, compenetrado nas asas dos seus pensamentos que rompiam os limites da vida sertaneja e, seus sonhos iam longe buscar... E assim, quase que como um devaneio, se via tomado por àqueles sonhos e foi pego de surpresa, quando de repente sua montaria refuga...
Por pouco não se desequilibra. À frente algo balançava...
A luz da lua encoberta, não deixava a visão muito clara do que poderia ser àquele objeto. E por alguns instantes o cavaleiro se viu desassossegado com àquilo. Seu cavalo se negou a seguir. Quanto mais ele olhava para o objeto, mas o mesmo mudava de figura... Ora parecia um animal...ora uma assombração – embora ele nunca tivesse visto alguma – ora uma figura humana e assim por adiante.
Diacho o que pode ser àquilo?-Pensou ele.
Por um instante, apesar de ser corajoso, sentiu um pouco de medo.
Seja lá o que for, preciso passar – Pensou.
Fustigou seu cavalo para seguir, mas esse não obedeceu e rodopiou para trás.
Então ele apeou de sua montaria e foi à pé, verificar de perto...Não era homem de se intimidar com nada e por isso, àquele pequeno medo momentâneo já havia passado.
A distância não era muito grande, mas o suficiente para que sua visão não conseguisse captar com clareza a imagem do objeto.
À medida que se aproximava, a imagem ia mudando de forma e clareando...
Tal qual foi a sua surpresa ao chegar lá...
Nada mais era do que uma folha seca de um coqueiro, que a brisa fazia balançar...
Sorriu sozinho, achando graça de tudo àquilo.
Retirou-a e seguiu viagem.
A mente humana tem dessas coisas...movida pelo medo, é capaz de fazer os objetos criarem formas diversas.