Um Passo Adiante Rumo Ao Passado

Ontem, eu dei um passo adiante rumo ao meu passado. Caminhei por ruas que outrora faziam parte do meu cotidiano, vi as janelas e a porta de minha antiga casa, admirei o quintal da frente que meus irmãos e eu havíamos transformado em um campinho e ficávamos da cor do barro vermelho tatuiano toda vez que brincávamos ali. Fecho os olhos e me vejo chutando aquela bola de basquete marrom... A pequena horta de minha mãe, cheia de cebolinhas, tomatinhos e pés de algodão, já não existe mais... Tudo está tão sem vida, embora a nostalgia me provoque um nó na garganta.

É possível ver o meu irmão sentado no degrau da porta fazendo pipas para vender... Ele está tão concentrado.

A rua me traz à tona aquele baque de bicicleta...

Ainda tenho a cicatriz. O asfalto lambeu perto do meu cotovelo que eu nem cheguei a sentir dor, apenas trauma por um tempo.

E quanto ao abacateiro do quintal do fundo? Quem teve a audácia de cortar?

Diziam que havia ouro escondido sob aquela imensa e robusta árvore e que sempre, à meia noite, caia-lhe uma bola de fogo de cima a baixo... Mas quem tinha coragem de tirar a prova?

Lembranças de um tempo bom que passou por mim e se foi, sem me dar a chance de despedida.

Ah, relógio malvado que me iludiu, dizendo que cada segundo é sempre igual! Veja só: já tenho o dobro daquele último ano de infância... Doce ilusão!

Enquanto fui me distanciando daquele passado, vi minha antiga escola do primário onde passei a melhor época escolar da minha vida e toquei naquele onde os alunos tiveram a oportunidade de fazer um desenho livre. A parede já foi repintada uma, duas ou talvez três vezes e apagou o meu desenho, mas eu sei que mesmo sob aquela tinta branca, ele ainda está lá, escondido entre os sonhos de tantas outras crianças. Como será que elas estão? Será que se tornaram boas pessoas? São tantas perguntas sem respostas.

E aquele pau-brasil que foi plantado na entrada da escola? Eu joguei uma mãozinha de terra ao seu redor... Com alguns galhos secos, ele já está maior do que eu.

Cada dez passos andados, representam um ano a mais daquela idade, e sinto aquele aperto e choro engasgado sumindo, deixando-me apenas com uma sensação sublime e confortante.

Ao pensar nas crianças de hoje, infelizmente, chego a conclusão de que elas se tornaram prisioneiras dentro de suas próprias casas, ao contrário da minha infância. Podíamos descer ladeiras numa bicicleta sem freios, brincar de taco na rua e ficar até oito, nove, dez horas da noite brincando de pique-esconde com os colegas da vizinhança. Bons tempos que não voltam mais...

Gabi Alves
Enviado por Gabi Alves em 05/04/2016
Reeditado em 22/04/2018
Código do texto: T5595293
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