Jurema, A Cadela De Osvaldinho

Jurema, a cadela de Osvaldinho

Vivia em seu regaço, comia na sua mão. Pela manhã ela acordava-o com delicadas lambidas no rosto. Osvaldinho acordava rindo de felicidades. Parecia que era a primeira vez sempre. Jogava a coberta em cima de Jurema e corria ao banho. Enquanto escovava os dentes e se arrumava pra escola ela sempre ao seu lado brincava com seus pés. Quando sentava naquela cadeira de madeira bruta que sua mãe herdara da bisa, Osvaldinho sempre jogava um pedaço de pão ao chão. Disfarçadamente sua mãe logo fingia uma reclamação e de costas ria daqueles dois. A cadela arfava de alegrias enquanto comia era por isso que sua mãe sabia.

Era manhosa a bichinha, toda lustrosa em suas duas cores. Num castanho cobreado peludo e bom de pegar. E por fim as patas dianteiras e a ponta do rabo eram branquinhos. Jurema chegou numa tarde de chuva fina parecia que não vingaria de tão pequena e magra. Osvaldinho cuidava dela durante todo o dia. Tinha arrumado a caixa de sapatos de seu pai para que ela dormisse bem tranquila. Aos dias ela foi crescendo e por fim tornou-se uma linda cadela de orelhas grandes. Era corajosa ,valente e muito esperta. Osvaldinho tinha lhe ensinado muitos truques. Ele assobiava e ela vinha numa velocidade pronta para o que seu dono desejava. O menino dividia seu almoço com ela e outras vezes iam nadar juntos. Mas era a noite que ele mais gostava abria a janela de seu quarto para ela dormir consigo.

Quando ele sentava no tronco seco de jabutica pela tarde de onde estivesse ela vinha e saltava em seu colo. Ele amava conversar com ela. Quando vinha da escola ela esperava por ele no portão.

Após alguns dois anos juntos o pai de Osvaldinho chamou o filho para conversar pensando ser a Jurema autora dos roubos dos pintos e ovos do grande galinheiro da família. A cadela de longe deitada em frente da porta da cozinha ouvia tudo e vez ou outra levantava a cabeça.

Osvaldinho triste com a conversa teve uma idéia e pôs a bichinha para dormir a noite toda com ele. Pela manhã o galinheiro novamente foi saqueado e o menino provou ao pai de quem não era a culpa.

Osvaldinho treinou Jurema a caçar mas na verdade ela já sabia fazer isto. Era que a cachorrinha se fingia não saber só para passar os dias com ele.

Ele a levou no galinheiro tentando ensina-la a proteger as galinhas de seu pai. Jurema entendeu e ali passou a noite. Na primeira noite não houve nada e nem​ na segunda e na terceira mas foi na quarta noite de lua cheia que ela surgiu. Uma baita de uma gamba bem criada. Veio por cima do galinheiro as galinhas logo carcarejaram e Jurema já estava com os dentes à mostra. Mal a gamba desceu pela tela de proteção logo Jurema rosnou e latiu dando o sinal de aviso. As luzes se acenderam o pai ,a mãe e os filhos vieram ver o acontecido. Jurema partia pra cima da gamba e esta corria rápida por todos os lados. Uma hora se engalfinharam mas Jurema estava certa de que era mais forte e mordia com vontade e a gamba corria desesperada.

Osvaldinho vibrava de alegria e incentivava sua amiga. Esta por ouvir seu amado dono lhe incentivar mais feroz caçava. A gamba subiu sangrando a tela e fugiu. O pai abriu a porta do galinheiro acariciou a cabeça da cachorra e esta disparou atrás do animal. Osvaldinho gritou para que voltasse mas ela queria provar o seu valor.

Mas naquela madrugada de caça atravessando o pomar da família a gamba correu para a estrada de barro vermelho querendo fugir de sua algoz. Mas o destino selou ambas as vidas da caçadora e da caçada. Aos olhos da lua ambas foram pisoteadas por uma tropa de mulas em disparadas. Um grupo de tropeiros partiam para juntar bois.

Ganindo ela não parou de caçar ,conseguiu morder o pescoço de sua vítima e a trouxe até a porta da casa de seu dono. Deixou a gamba morta no tapete de panos velhos latiu pela ultima vez e se foi para o mato. Chegando numa área pequena dentro do mato não quis esperar o seu dono ,morrer escondida ,solitária. Osvaldinho a procurou, assobiou, gritou e desesperou-se já imaginando o pior. Seu pai pediu que sua mãe o deixasse em paz. Ele a encontrou nos seus últimos momentos de dor a cadela rosnou. E ele entedeu que deveria sair dali e deixa-la sofrer, agonizar e morrer em paz. Osvaldinho porém segurou as lágrimas se levantou e saiu. Depois voltou. Trouxe panos secos ,sem se importar com seus rosnados pôs Jurema sobre os panos. Deu-lhe água com remédios para aplacar a dor. Fez carinho em sua cabeça como sempre fizera desde de que ela chegou. Não disse sequer uma só palavra. Jurema era valente corajosa e inteligente. Mas naquela tarde quente de dezembro Jurema mais calma chorou pela primeira vez em sua vida. E Osvaldo não conseguia falar nada e ele tentou. Ao longe outros cães latiram e antes que o sol se fosse Jurema já tinha ido para a arca de Noé. Osvaldinho era lágrimas e lágrimas. Nem mesmo por sua avó chorou tanto assim. Sua camisa esta impregnada de lágrimas, seu rosto transtornado, se sentiu injustiçado. Hora ou outra ele sorvia o ar fortemente e inflava o peito desconsolado. Sua mãe da janela da cozinha via tudo isso e calada com os olhos cheios de água aguardava pelo seu filho. O céu trovejou as nuvens que vieram e se despediram de Jurema. A dois metros do portão Osvaldinho enterrou sua melhor amiga e companheira. E desde aquele dia o portão da fazenda se chamou portão da Jurema. A chuva logo cessou e ao voltar sua mãe o chamou :-Osvaldinho tome um pouco de café meu filho. E ele respondeu : - Obrigado minha mãe. Doravante não sou mais Osvaldinho ,me chamo Osvaldo.

Hugo Deff
Enviado por Hugo Deff em 04/04/2016
Reeditado em 26/03/2017
Código do texto: T5594450
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