Remédio Amargo

Deitado naquela cama em seu leito de morte aquele homem padecia, procurava lembrar dos momentos marcantes de sua vida: aniversários, nascimento dos filhos, separação, status, falência da empresa nada daquilo fazia mais sentido, foram momentos que estão marcados em algum lugar do tempo, mas que ele jamais acessará novamente, lembrava também de seus familiares que já tinha feito a passagem: pai, mãe, irmãos, tios, amigos, tudo apenas se resumia em saudade.

Havia aproveitado cada minuto de sua vida, não era hedonista, mas por outro lado não era muito espiritual, não se contentava e não queria acreditar que tudo terminaria ali, não aceitava, não daquela forma, ele foi alguém, contribuiu com a sociedade, mas no meio a ampolas, soros e dor nada do que tinha feito até então poderia ajudá-lo.

Sentia a vida se esvaziando, lágrimas caiam, não era de dor, é claro a dor ajudava, mas eram lágrimas de saudade, saudade de todos, saudade de quando era jovem e saudável, saudade do seu cachorro, naquela época tinha tudo, mas não se sentia feliz, sempre reclamava, reclamava da chuva, reclamava do sol, reclamava do trânsito, reclamava do país, dos pais, mas agora próximo da morte, ele daria qualquer coisa para poder abraçar aquele seu cachorro, sua esposa, até mesmo seu vizinho chato, por um instante percebeu que sempre foi feliz, mas só ali, diante da fragilidade da vida pode perceber, infelizmente não havia mais tempo para reparação, suspirou profundamente, fechou os olhos e dormiu.

A porta do quarto se abre, entra na sala o médico que inicia mais um dia de trabalho, ele não esta com a cara boa, esta bem irritado com tudo, com o trânsito, com o salário, com o país, com os pais, de repente olha o idoso no leito, pega o seu pulso e confirma: Hora da morte: 17:17.

O_Interditado
Enviado por O_Interditado em 30/03/2016
Código do texto: T5589401
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