Natália

Natália estava sentada em frente ao lago e parecia não perceber nada ao seu redor, seus pensamentos eram uma mistura de dor e alívio ao mesmo tempo.

Olhava aquela água parada e perguntava a si mesma o que tinha feito da vida? Via agora que tinha vivido como aquele lago , águas paradas, sem movimento sem força, estagnada.

Tudo começou há 20 anos quando o medico lhe disse que seu esposo estava com uma doença incurável. Naquela época ela o amava demais, não conseguia imaginar sua vida sem ele.

Natália era muito religiosa, frequentava uma igreja, orava muito e naquele dia, ao chegar em casa rogou com todas as forças que Deus a levasse no lugar do marido, naquela hora sua vida parecia não ter sentido sem ele e implorou; somente fez uma ressalva, de que Deus permitisse que ela só viesse a morrer quando os dois filhos estivessem maiores. A possibilidade de morrer e deixar os filhos pequenos lhe parecia horrível.

Não conseguia imaginar também os filhos sem pai, ficava sabendo de tantas coisas na vida, lia e via a respeito de mulheres que colocavam um homem dentro de casa e que esses não amavam os filhos, maltratavam por não aceitarem filhos de outro homem. O interessante é que esses tais homens se diziam apaixonados, dispostos a assumir mas depois viraram do avesso, não, ela não queria passar por isso e sabia que também não conseguiria ficar só , a solidão é triste, e também não iria querer viver de aventuras.

Assim sendo, rogou aos céus que dessem uma chance ao seu amor, a sua vida, aos seus filhos....

O tempo passou e seu esposo milagrosamente ficou curado.

Natália só não sabia que seis anos depois ela iria começar a se decepcionar bastante com ele, ou talvez a sua paixão cega não deixasse ela ver quem ele era afinal.

Foram anos de decepção dos quais ela teve que aguentar sem reclamar, afinal foi ela quem pediu por isso.

Agora, estava ali, em frente ao lago, 16 anos depois olhando o resultado do exame ( câncer nos ossos em estágio avançado)

Sabia que iria morrer, seus filhos já estavam com 18 e 20 anos. Sabia que sua oração tinha sido atendida naquele dia e agora chegara a hora de partir.

Não lamentava; seus filhos estavam criados. Foi assim que ela desejou e assim estava sendo feito.

Sabia, porém, que jamais deveria ter pedido aquilo. Via o quanto foi tola, talvez Deus estivesse querendo lhe fazer feliz, lhe dar um verdadeiro amor,e ela rejeitou . Agora via sem sombra de duvida que o amor que ela pensava ter não era nada, era uma ilusão e que ele nunca a fez feliz de verdade com seu egoismo, com suas mentiras e sua negligência para com ela.

Estava ali em frente ao lago e lembrando de tudo isso. Pensou em se jogar e acabar com o suplicio logo, temia a doença, não temia a morte!

Viu seu filho andando em sua direção e pensou: que pensamento tolo, sempre fui guerreira e não vai ser agora que vou desistir, nem decepcionar meus filhos tirando minha vida como uma covarde.

Levantou-se , sorriu e o abraçou!

Cris Victor
Enviado por Cris Victor em 29/03/2016
Reeditado em 02/04/2016
Código do texto: T5589118
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