A Raça Negra Nos Tombadilhos

A raça negra foi levada para vários navios.

Quem a coloca presa a corrente e ferros

São os vis europeus da raça branca.

Um deles machuca-lhes as costas com a chibata.

Todo mundo ali chora por ser degredado.

Sofrem juntos e sentem o gosto do fel no tombadilho.

O homem que lhes açoita com o chicote com eles grita.

Fala inúmeros palavrões e insulta suas mães

numa língua que não podem entender.

A raça negra sente no peito uma dor intensa.

Um por um vai tendo os pés presos a correntes.

Os infames europeus os querem acorrentados.

Não podem fugir a qualquer dos lados.

No mar não podem dar seus saltos e cair nas ondas.

O suor vira pasta fedendo em seus corpos.

No mar ninguém pode escapar.

A morte seria certa ao se afogar.

Sentem-se como um rebanho de ovelhas no matadouro.

Gemem de dor corroídos pela angústia e medo.

A raça negra é levada ao desespero.

Foi arrancada dos seus entes queridos.

Quem entra em suas casas foram os da própria raça.

Entraram e os pegaram na hora que estavam dormindo.

Seus filhos e mulheres viram tudo de olhos arregalados.

Depressa nos navios viram-se acorrentados.

A raça negra chora no tombadilho com a pele machucada.

O carrasco grita e até insulta.

Um deles olha e observa no peito do carrasco

um colar feito de contas de lágrimas com um crucifixo.

Ainda por cima o maldito crê em Cristo.

Não pratica o amor ao próximo.

Enquanto isso a raça negra no tombadilho

vai para o degredo e também para a morte certa.

Terá obrigação de suportar o vil destino.

O carrasco grita para ser ouvido.

Mas a raça negra não é surda.

Só não entende a língua falada.

Alguém mais lhes da um tapa na cara.

Qual o motivo de estarem presos no tombadilho?

Ninguém lhes conta qual será o destino.

Alguns de sede caem e morrem ali mesmo.

Os corpos são jogados fora dos navios.

Não tiveram um decente enterro.

O carrasco grita e o chicote agita.

Ele não sabe que dentro de pouco tempo a forte

e bela raça negra será liberta pela "Lei Áurea".

Ela que sofre o degredo e a escravidão.

Terá pela frente uma nova missão.

Há de fazer parte da nossa miscigenação.

O Brasil a fora irá herdar sua cor.

Assim dará a nosso país sua raça e valor.

A raça negra presa nos tombadilhos

é agora também a cor dos brasileiros.

Vivem livres das mãos dos estrangeiros

e andando pelas cidades do país inteiro.

Faz com que o Brasil seja agora afro brasileiro.

Viva a raça negra no Brasil inteiro!

O carrasco que lhes batia o chicote

morreu sem deixar aqui um descendente.

A raça negra veio e se misturou a nossa gente.

( J C L I S )

BELO HORIZONTE , 24 DE MARÇO DE 2016.

MG.