Uma fita

O correria escorrega seu corpo no banco de madeira, tocando seus joelhos nas tiras amadeiradas do banco seguinte. Inclina a cabeça com peso pra frente, com uma elasticidade possível de tocar a barriga. Uma senha desponta no painel, depois de uns instante mais uma, e outra, num passar cansado os números vão se rolando. O correria com os olhos anestesiados deixa-os vacilar de tempos em tempos como se o cansaço das correrias o perseguisse até ali. Pestaneja para afastar o sono, boceja como se fosse um ritual. De olhos e gestos vagarosos vai deixando as horas se findarem.

Mais uma senha chamada. O correria apruma seus joelhos com os cotovelos em cima. Deixa a cabeça cair em suas pernas de propósito, talvez pressentindo o fracasso da sua busca vã por emprego. O amarelo do letreiro sustenta o nome: Casa do trabalhador. O correria ao vê-lo entende o porque de está ali, entende a razão de tantos outros estarem ali sentados naqueles bancos que lembravam praças, mas não as praças da sua quebrada. O correria pode enxergar isso tudo, mas não entende o porque de tão pouco pra tanta gente. Percebeu que não era o único a levantar cedo e fazer seus corres. Levantou os olhos e viu no painel de Led que transmitia o photoshop social a sua senha anunciada, correria olha meio míope pra ter certeza puxa o pepel do bolso e caminha até a atendente ruiva. Correria senta-se, depois de alguns minutos de conversa levanta-se com a carteira azul nas mãos, engata uma passada malandra de pés e toma rumo a saída. Correria se vai pensando em fazer mais de suas correrias.

Alexandre Rodrigues de Lima
Enviado por Alexandre Rodrigues de Lima em 23/03/2016
Reeditado em 20/11/2017
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