OUTONO

OUTONO

Como o outono com suas tardes preguiçosas, e noites de luzes amareladas pela névoa que precede o inverno e deixa o ar nostálgico, a vida segue a risca o seu tempo e espaço, como cópia fiel da natureza que pródiga e intensa, dita as normas e da os exemplos.

As estações do ano se repetem a seu tempo, cada uma tem seu poder, sua força, seu destino. Nelas estão repetidas todas as vibrações e peculiaridades, e são interligadas, a primavera precede e prepara o verão, o outono o inverno. Parecem ter por missão evitar o brusco choque da mudança do inverno para o verão, que com certeza seria extremamente prejudicial à vida de cada ser.

A água que brota de uma nascente no alto do morro, inicia sua trajetória lenta e vacilante, mas a força da gravidade como se fora seu destino a faz rolar ribanceira abaixo, ora desviando dos obstáculos, ora agarrando-se às margens, ora fugindo dos sedentos.Vai ainda carregando em si o que há na margem, pequeninos grãos de areia, semente de vegetais, microscópicos corpos. Nessa desabalada carreira sequer percebe o tempo passar, e com ele, seu tamanho cresce e se transforma em um riacho que começa a dar vida aos seres, como os peixes, os vegetais, saciar a sede de várias formas de seres, de vidas.

Num caminho já traçado vai buscando cumprir seu destino que é chegar ao mar. Mas mesmo antes de chegar, por várias vezes fora evaporada pelo efeito do sol, e se transformado em nuvem que talvez tenha ido para bem longe dali, e lá bem longe como chuva, serviu como refresco e alimento para salvar vidas. Cumprida essa missão, reinicia o caminho da nascente para o riacho, deste para o rio e depois para o mar, e recomeça tudo de novo, num ciclo consciente ou não, será sempre útil para a vida.

Os astros em suas jornadas repetitivas, algumas vezes buscam fugir da rotina, ou pelo menos usam artimanhas como se esconder atrás das nuvens. Outras vezes procuram chamar a atenção com os eclipses. O sol vem colocar a força de seu calor, os seus raios para o bem da vida. Dizem até que você não deve olhar diretamente para o sol, pois pode prejudicar sua visão, olhe sim para sua sombra, sinta a sua intensidade no calor que ele te proporciona, e saberá que ele está em você. Pode também olhá-lo de frente, mas terá que ser de manhã bem cedo, quando ele é ainda bem pequeno, da altura de seus olhos. Também à tardinha, quando está terminando sua jornada diária, ele se amiúda para o seu descanso, daí você pode encará-lo de frente, mas bem cedinho ou à tardinha, e o espetáculo é impar.

Já a lua, quando na fase decrescente pouco é lembrada, minguante então nem pensar, mas quando na fase crescente, já desperta interesse, e quando cheia é maravilhosa. Lá no sertão onde não há luz artificial, há somente os vaga-lumes, as estrelas e a lua, esta é soberana. Parado na estradinha inicialmente ouve-se o som dos grilos, depois dos sapos, das corujas, e até imagina-se ouvir onças, lobos uivando, precente a presença de cobras, aranhas, nesse êxtase você sente a luz da lua em você, a mesma luz que estará envolvendo outras pessoas nos mais distantes e diversos lugares, onde você nem imagina. Essa lua é a mesma que faz os boêmios com seus violões cantarem para seus amores. Mas não se iludam, a lua tem funções bem mais importantes de força na natureza, ela interfere nas marés, na produção de alimentos, na pesca, e até no crescimento de seus cabelos e unhas. A vida humana muito já pesquisou, e continua pesquisando, esse e todos os outros chamados fenômenos da natureza, mas aos de crença e entendimentos espiritualistas, o espírito de verdade disse em seu advento. “Em primeiro lugar amai-vos uns aos outros, em segundo instruí-vos”, e daí, qual será o estágio de cada um de nós?

Consciente dessas transformações da natureza, quando chegar à névoa do inverno de minha vida, quero por meus pés já fragilizados na terra, despejar sobre eles o peso de meu corpo deformado pelos excessos na vida, e olhar na direção reta pela manhã, e ver o sol, à tardinha também olhar em linha reta, observar lentamente tudo o que se passou por essa linha e dizer na hora do anjo um agradecimento, “Santo anjo do Senhor, meu zeloso e guardador. Se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarde, me governe e me ilumine”. Depois quero por minhas costas na terra e meu olhar para cima, sem receio de mais nada, e esperar...

Sabe aquela lagarta de aparência horrível, como numa mágica ela entra num casulo e espera...Depois de algum tempo, sai de lá o mais lindo, o mais leve dos animais da criação, a borboleta, que terá a missão de ir de flor em flor, para criar e embelezar cada vez mais a vida. E, se essa borboleta ainda for azul, mais linda, e talvez tenha um número bem grande para fazer peso e não permitir que ela vá embora nos deixando órfãos.

Com o consentimento do querido irmão:

Paulo C.Rozeto

RoseRolim