MEU PAI ( 7ª parte )

Com tudo isso acontecendo, a mãe interveio não concordando com a atitude autoritária do pai. As brigas entre os dois eram constantes. Eu muitas vezes acordei na madrugada, com as discussões violentas dos dois. O motivo era, entre outras coisas, nossa situação precária e desnecessária de vida.

Meu pai não admitia seus erros e ficava muito bravo quando os apontávamos. Na sua cabeça, ele era o pai, o chefe e o dono de tudo. Entretanto na prática, nada fazia para merecer ser o líder de nossa família. Só tinha a força do mandonismo e prepotência. E nós, pelo menos eu e a mãe, cansados de levar aquela vida de privações, estávamos fartos.

Eu sofria, muitas vezes, calado. Outras vezes desabava no choro. Acabava brigando na rua e muitas vezes em casa. Era horrível aquela situação. Desejava ter nascido em outra família. Desejava muitas vezes morrer. O pai notando que a mãe cada vez mais se distanciava dele e mais e mais se apegava a mim e aos meus irmãos, resolveu dar uma cartada final. Uma noite, os dois começaram a brigar. De repente surgiu o meu nome na discussão. O pai então, disse à mãe para ela escolher entre ele ou eu.

Minha mãe argumentava, falando que não se tratava de uma escolha e que aquela atitude do pai era descabida e absurda, além de infantil. Meu pai surtou. Diante da resposta de minha mãe, ele pegou algumas roupas e foi dormir em sua oficina, distante alguns metros de casa. Ficava no mesmo terreno. Lembro que a mãe ficou arrasada. E eu que ouvira toda a discussão, senti-me profundamente triste, achando que fora eu o pivô da briga e da separação de corpos de meus pais.

Soberbo, o pai não deu o braço a torcer. Passou a cozinhar, a lavar e dormir em sua oficina. Apesar de me sentir mal e culpado com a saída de casa do pai, achei que tinha sido melhor daquele jeito. Com o passar dos dias a poeira abaixou, a mãe voltou a conversar com o pai, mas este porém, não voltou mais a morar em casa. Com isto ele se liberou do pequeno gasto de nos prover com os poucos mantimentos, que colocava em casa. Em sua opinião, já que saíra de casa, não precisava mais tratar dos vagabundos, era como o pai nos chamava sempre.

Com o pai fora de casa, assumi as responsabilidades rotineiras de cuidar dos irmãos mais novos, pagar água e luz. Consegui através de um arranjo político, a aposentadoria da mãe. Agora ela poderia ficar em casa. Eu continuava meu trabalho de servente de pedreiro. Incumbi-me também de construir uma nova moradia para minha mãe, minha irmã e eu.

Com o material de construção muito caro, decidi reaproveitar o material que, de maneira errada, fora utilizado pelo pai e seus pedreiros, em obras desnecessárias e mal feitas. E havia muito material de construção desperdiçado. Tudo fruto do planejamento errado e da teimosia e ignorância do pai.

Demoli por partes a casa antiga que morávamos. Contratei um bom pedreiro com minhas economias. Sem dinheiro para pagar um ajudante para o pedreiro, tornei-me seu servente. Foram dias, semanas, meses. Sábados e domingos, incluindo os feriados trabalhando na construção da nova casa. O pai tudo via e não sei se acreditava ou não, na construção da casa nova.

(continua)

Valdeci C Freitas
Enviado por Valdeci C Freitas em 18/03/2016
Reeditado em 18/03/2016
Código do texto: T5577410
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