MEU PAI ( 6ª parte )

Minha Mãe entrava em vários embates e discussões com o pai. Nada conseguia. Meus irmãos mais novos, pouco ou nada entendiam. Não tinham dimensão da real situação, mas sofriam juntos comigo. Meus irmãos mais velhos estavam morando longe, apartados de nós, cuidando de suas famílias e vivendo suas realidades. Só tinham a lembrança ruim de meu pai. Infelizmente quando se manifestavam, davam palpites desnecessários que de nada serviam.

Passamos por situações delicadas e vexames por causa do pai. Lembro-me do que ele fazia com o lixo. Ao invés de coletar, colocar num recipiente próprio e deixar para os coletores de lixo da prefeitura levar, o pai abria uma valeta no quintal, e enterrava todo o lixo que produzíamos. Eu achava tudo um aquilo um erro, um perigo e um absurdo. Não fazia sentido, eu pensava pagar taxa para o lixo ser removido e enterrá-lo no próprio quintal. Era muito incoerente.

Diz o provérbio que a ignorância é uma benção. No caso de meu pai foi uma desgraça para minha família. Quanta atitude ignorante presenciei, envolvendo saúde e dinheiro. Atos que só não tiveram consequências piores, graças ao amparo divino. E era a Deus que eu recorria, pois não tinha ninguém mais para desabafar, chorar ou pedir ajuda.

A mãe se levantava de madrugada para trabalhar e garantir o sustento decente para nós. O pai também não parava, trabalhava bastante. Porém o resultado do trabalho do pai, não era revertido em benefícios para a família. Não havia prosperidade. Continuávamos morando mal, comendo mal e vivendo mal. Minha mãe se esforçava e fazia com o pouco que ganhava muita coisa. Eu estudava a noite e trabalhava como servente de pedreiro de dia. Custeava com meu parco salário, minhas pequenas necessidades.

Em 1984, comecei a namorar uma linda garota. Eu tinha 18 anos. Muitos sonhos, muitas tristezas e traumas acumulados. O relacionamento com o pai só piorava. Quando fui levado para conhecer a casa e a família da namorada, pude notar a diferença material e educacional que existia. Ela morava numa casa simples, porém era limpa com todos os móveis e utensílios no lugar. E havia respeito e bem querer no trato dela com seu pai.

Descobri no decorrer do namoro, que meu pai era cliente do tio de minha namorada. O seu tio era advogado e possuía um escritório de contabilidade, que cuidava da parte burocrática do bar de meu pai. Aliás, minha namorada trabalhava neste escritório e conhecia meu pai de vista.

Nesta época o pai já não falava muito comigo. Limitava-se a dar poucos avisos e a demonstrar com seus atos, o poder familiar. Coisa que para mim, àquela altura, era desnecessário. Eu não queria mandar em casa. Eu queria era viver em paz e morar decentemente em casa. Eu queria ver a mãe e meus irmãos morando, comendo e dormindo bem.

Num determinado dia, decidi arrumar um pouco a casa. Fazia tempo que eu era servente de pedreiro e aprendera o básico de construção e reforma. Comprei com minhas economias, o material necessário. Quando o caminhão da loja de material de construção chegou fiquei radiante e orgulhoso. O pai quando viu o material de construção sendo descarregado na porta de casa, fez com que fosse recarregado de volta ao caminhão e devolvido à loja. Não consentiu e nem admitiu que eu, o filho, tomasse à frente a reforma da casa que era de sua propriedade.

(continua)

Valdeci C Freitas
Enviado por Valdeci C Freitas em 17/03/2016
Código do texto: T5576290
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