MEU PAI ( 4ª parte )
Quando eu tinha 15 anos, o pai estava com 58 anos de idade. Um grande conflito de gerações acontecia. Não nos entendíamos. Eu queria ter o básico de conforto, apenas aquilo que eu via outros garotos de minha idade e com as mesmas condições financeiras terem. Mas meu pai me contrariava e me rechaçava, impondo sua autoridade de pai e chefe da família.
Fase dos hormônios, do conflito interno, da necessidade de compreensão de uma palavra amiga, de exemplos a seguir, eu estava à deriva. Muito estudioso, me afundava nos livros emprestados da biblioteca municipal. Solitário, eu era um rapaz tímido, introvertido e inseguro.
Com esses conflitos todos e sem um diálogo aberto, fomos, eu e o pai, nos distanciando. O pai com seus gostos, gestos e modos atrasados me causavam vergonha e raiva. Eu estava na escola descobrindo coisas novas, tendo ideias e vontades novas sem, no entanto, podendo pô-las em prática. E meu pai gastando dinheiro à toa, com assuntos e coisas que eu sabia serem erradas. Provei isso anos mais tarde.
O nosso relacionamento ia de mal a pior, dia após dia, ano após ano. Pouco conversávamos. Eu achava os modos de meu pai grosseiros e errados. Ele me achava petulante e arrogante. Às vezes penso que me achava esnobe também.
Na verdade, éramos proprietários de vários bens, como casa própria, chácara e terrenos. E ao mesmo tempo, nós em casa não possuíamos nada. Não havia boas roupas, nem bons calçados. Nossas camas não eram confortáveis. Aliás, nem cama tínhamos. Não havia um bom estofado na sala, não havia uma boa televisão. A mãe trabalhava tanto e não tinha um bom fogão para cozinhar, boas panelas, uma boa geladeira. Tínhamos comida o suficiente para não passarmos fome, e o pai jogava isso sempre em nossa cara.
Em minha cabeça de adolescente, a culpa era do pai. Ele não sabia administrar e nem empregar de maneira correta, o dinheiro que ganhava trabalhando num movimentado bar, de sua propriedade. Até hoje não sei se eu estava certo ou errado, das coisas que fiz e falei, ao pai. Prefiro pensar com humildade sobre o acontecido e aos poucos vou penetrando naquele mundo que ficou lá atrás, mas que influenciou e influencia ainda minha vida. Agora falo e escrevo sobre.
Em alguns momentos senti orgulho de meu pai. Principalmente por ser ele trabalhador, honesto com seus negócios e, portanto, respeitado pelos estranhos. Mas também senti muita raiva de meu pai, muita vergonha. Não entendia o porquê de vivermos na penúria, se tínhamos condições de ter bem mais que o pouco com o qual sobrevivíamos.
(continua)