MEU PAI ( 3ª parte )
Em um ano aconteceram o encontro, o namoro, o noivado e o casamento do pai com minha mãe. O enlace matrimonial foi em dezembro do ano de 1944, na pequenina igreja de um lugarejo denominado Espírito Santo do Turvo. Os noivos e os convidados chegaram em suas montarias. Não havia entre eles, veículos motorizados, coisa rara para a região naquela época.
Uma grande festa sucedeu a cerimônia nupcial. Comes e bebes à vontade. Muita fartura de comida. Muitos presentes, muitas felicitações e muito trabalho esperavam o pai e a mãe, na segunda-feira, após o casamento. A lua de mel foi comemorada na humilde casa, para onde meu pai levou sua amada, na roça.
Contou-me a mãe, que terminada a guerra na Europa, em 1945, Joaquim Felício voltou são e salvo. Sabendo do casamento de sua prometida com outro, foi até a fazenda onde o pai e a mãe moravam para ver de perto, e se inteirar do acontecido. Meus pais moravam numa casa de madeira, na parte baixa do terreno, onde o grande cafezal perdia-se de vista.
Ao avistar aquele homem, com trajes elegantes, montando um belo cavalo, se aproximando, o pai começou a segui-lo, a pé, por dentro do carreador de café. Chegaram os dois ao mesmo tempo, à porteira. Meu pai perguntou ao forasteiro, o que este queria por aquelas bandas. A resposta foi direta, disse o homem que viera ver sua noiva.
O pai então lhe disse, que ali não havia nada mais que lhe interessava. Falou também do risco de morte que o homem corria se porventura, ultrapassasse a porteira. Joaquim Felício virou seu cavalo e a galope foi embora. Sua prometida agora era esposa de outro homem: de meu pai. Ouvi esta história centenas de vezes, e esta é a parte que sempre gostei e gosto. Sinto orgulho do pai defendendo o seu amor e encarando aquele homenzarrão prepotente que veio cobrar satisfações, por ter perdido um amor, que na verdade era apenas mais um acordo entre famílias ricas.
Durante quatro anos, meus pais não tiveram filhos. Em 1948, no mês de maio, nasceu meu irmão mais velho, Valdir. Em 1950 nasceu minha irmã mais velha, Elza. Daí em diante veio onze filhos. Seis homens e cinco mulheres. Eu sou o oitavo dessa ninhada. Nasci em 1965, o pai contava então 43 anos de idade e a mãe tinha 39 anos.
Acredito, hoje, que nos seus 43 anos de idade, com sete filhos já, o pai não tenha sentido aquele prazer de ser pai novamente. Já não sentia aquela emoção. Na verdade o pai acostumara-se a ter filhos. Eu já não era novidade para ele.
Mesmo assim, cresci apegado ao pai, como todo garoto normal o é. Passeava com meu pai de carroça, de bicicleta. Estava sempre perto dele. Admirava meu pai e queria ser igual a ele. Por ser muito traquina, levei muitas surras do pai. Surras doídas, magoadas e nem sempre necessárias. Sou fruto de uma educação típica, rígida, enérgica.
(continua)