A VELHINHA BOAZINHA

Dona Luzia nao conseguia dormir a noite. O barulho na sua rua era incessante. Os gritos de um grupo de moradores tiravam o sono da aposentada. Os olhos da velhinha presenciavam pela fresta da janela muitas cenas fortes. O movimento começava partir das 22 horas. A calçada da casa servia de ponto de encontro daquelas figuras noturnas. A casa da aposentada tinha uma arquitetura antiga. O muro baixo, terraço pequeno e um berau que destoava das cores dos outros pavimentos. Ojardim tinha muitas plantas e uma fruteira. O jambeiro abastecia a barriga dos meninos da rua. Dona Luzia sentia saudades dos antigos moradores que contribuiram para a calmaria daquela rua. O senhor Orobo, comerciante da feira de Perdizes. A dona Lindaura, enfermeira mais requisitada, o delegado aposentado Romeu e a alegre dona Zilda foram os mais pacatos moradores daquela rua. Mas aos poucos estes vizinhos de Dona Luzia foram embora ou faleceram de alguma doença. As casas foram ocupadas por gente desconhecida. Os ocupantes destas casas eram provenientes do Morro do Salame. Outro dia Dona Luzia presenciou um assassinato. Quando os policiais chegaram nenhum dos moradores denunciaram os matadores daquele defunto. A aposentada emudeceu diante as perguntas dos policiais. Dona Luzia morava naquela casa desde a morte do marido. O casal conviveu junto por 50 anos, mas tinha um papagaio que animava o seu dia. Os parentes dela moravam distante e visitavam a velhinha apenas uma vez por ano. A aposentada sofria de muitas enfermidades. A Diabetes e a Osteoporose limitavam a vida da pobre velhinha. Por isso ela recorria a motoboys para trazer as suas compras. As visitas destes motoqueiros eram frequentes. Certo dia apareceu um historiador naquela rua para fazer uma pesquisa sobre os antigos moradores. O trabalho foi intenso. Mas o historiador descobriu algo curioso sobre Dona Luzia. Ela era chamada pelos motoboys e a velhinha boazinha. Eles recebiam gorjetas generosas. Mas a eles denominavam-na tambem de velhinha do crack. Enquanto os viciados se estapeavam na calçada, a aposentada faturava uma fortuna com as drogas transportadas pelos motoqueiros. Todo eles comandados pela inocente e bondosa aposentada.

Levi Oliveira
Enviado por Levi Oliveira em 13/03/2016
Reeditado em 13/03/2016
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