NEGRO CURIOSO É DIFÍCIL VIU!

Um negro perdido na porta da câmara de vereadores.

Numa cidadela do interior do estado de São Paulo, em dia solene, a elite local, maravilhada e repleta de ansiedade reunia-se num evento, o qual tinha por fim conhecer o grande salvador da pátria.

Um nobre edil (vereador) Joãozinho se aproxima do negro que estava próximo à entrada e afirma:

̶ Bom dia, você veio para a apresentação do novo herói da cidade?

O negro que curtia o clima quente e o céu azul, responde sutilmente: ̶ sim!

O representante da nobreza local, então tem um ataque de vomito e declara:

̶ vamos educar este cara, dizem que ele já venceu batalhas ferozes, mas aqui quem corta cabeças somos nós, vai vendo! E o imponente Senhor entrou no ambiente.

̶ O negro sem nada entender, sorriu e foi para um cantinho próximo à porta para ver o que acontecia.

Pessoas chegando, roupas novas, passos elegantes, conversinhas de interior, o cheiro do café no ar e de alguns pães de queijo.

Gente sentada no auditório, mesa central a frente do ambiente, ali devem sentar os nobres da cidade o negro imaginou.

Os mestres a frente compõem a mesa de trabalho e os nobres são chamados pelo nome e logo aplaudidos pela multidão.

Ao lado direito da mesa o outrora edil amansador de guerreiros, com sua postura superior e imponente permanecia com olhar altivo.

O menino negro, filho de cortadores de cana, olha a cena com admiração e distanciamento.

O presidente da câmara dos vereadores começa o evento:

̶ Senhor prefeito; nobres vereadores; autoridades presentes; senhores e senhoras.

Todos quietos, ansiosos pela esperança de dias melhores na interiorana cidadela.

Ouvia-se um pernilongo que insistia em voar pelo ambiente.

Uma senhora negra funcionária da repartição oferece ao negro uma garrafa de água, e diz:

̶ Filho aceita uma água?

̶ Não, obrigado! Responde ele.

Uma senhora elegante, com vestido de seda olha de lado, com certo ar de discordância e um balão se forma sobre sua cabeça com os dizeres “dá pra vocês ficarem quietos que estamos numa cerimônia da nobreza”.

Então, o presidente convida a todos a ficarem de pé, o herói será apresentado a todos e olhares curiosos e admirados olham para a porta que dá acesso ao plenário.

̶ Chamamos para ocupar lugar de destaque na mesa de trabalhos, o novo herói do povo:

Seja bem vindo, Tenente da polícia militar, Tião, O NEGRO QUE ESTAVA À PORTA, a cidadela te recebe de braços abertos.

HELDER DE CRISTO
Enviado por HELDER DE CRISTO em 06/03/2016
Reeditado em 06/03/2016
Código do texto: T5564991
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