Período de semidesintegração
‘Céu prateado. Mar acinzentado.
Calça velha, tênis surrado.
Olhar aborrecido, sorriso desbotado.
Sigo pela orla, andar arrastado.’
Do violão não sai uma nota, e eu só tenho uma nota. É nota de cem, e ninguém troca.
A onda quebra, traz a maresia. A onda faz barulho, parece eco. Tenho em mãos um Umberto Eco. Não vou ler agora. Faz frio e minha garganta está seca.
Silêncio.
A música toca, ela está no ar, está no vento. Só eu a escuto. O violão não quer aprisioná-la. Então, ela toca e eu escuto. Vai embora, foge no ar, e me escapa.
A canção veio do céu prateado ou do mar acinzentado? Roubou-lhes a cor? Ou será que ela saiu de mim, deixando-me com a boca seca, o olhar aborrecido, o sorriso desbotado, seguindo pela orla, andar arrastado?
Então já não faz diferença entre céu, mar e eu. Somos todos cinza. Somos todos prata.