Primavera, Domingo e sorvetes
Primavera, Domingo e sorvetes.
Sua primavera era um período de transição sazonal e
ela sabia que o tempo, esse inimigo mortal da hora, não
tardaria a chegar. Suas mão finas entrelaçadas
denotavam uma eminente crise nervosa acalentada por
uma ansiedade insuportável. Tentou separar as duas
mãos colocando -as nos bolsos da longa saia de algodão
florida com fundo preto, e tentou dar uma caminhada
leve. Seus pensamentos afloravam em profusão
desacordada, oriunda de sua plena capacidade de
imaginar e pensar coisas a partir de atitudes vistas e
sentidas pelo motivo de sua inconstância. Pós- se a
andar sem destino ou propósito. Um vento leve
anunciava, quem sabe uma pequena garoa de fim de
dia. O crepúsculo não tardaria a acontecer e ela sabia
que deveria voltar para casa. A paisagem não era
estonteante mas estava no momento linda o suficiente
para acalmá-la. Nem deveria estar tão irritada, uma
vez que sua escolha deveria ser a última cartada de
um jogo que ela mesma havia proposto. Nem deixaria o
passado interferir em sua escolha ou decisão. Um
menino passou correndo em uma bicicleta velha e suja
ao seu lado numa velocidade considerável. Ela só
notou que ele havia dado a volta e parado logo a sua
frente quando ouviu sua voz : "Tia tem um dinheiro de sorvete pra mim?" o menino pediu sorrindo. Sua primeira reação seria
dizer ao menino que ela não era sua "tia" mas ele deu
um sorriso tão inocente e pidão que ela sorriu junto.
"Como é seu nome?" ela perguntou. "Carlos. Carlos
Alberto tia". "Tenho sim. Mas só se formos juntos quero
sorvete também". "Claro! vamos sim". Continuaram caminhado
lado a lado contornando a praça em direção a
sorveteria. Tomar um sorvete e conversar
amigavelmente com o menino feliz agora eram muito
mais urgente e importante do que tomar decisões de
adulta. Revogaria o dia, decidiria amanhã. Isso.
Outro dia, o mesmo Sol com certeza lhe trariam mais
elucidações. Sua saudade teria que esperar um pouco
mais, quem sabe apenas mais uma vida.
Malibe, hoje.
20.02.2016.