Já não é mais como era
- O mundo já não é mais como era antigamente! – Falou um senhor para o seu colega grisalho, enquanto se ajeitava em um banco de praça.
- Não é mesmo. Você acredita que quando vinha eu subindo o morro do cartório, duas mulheres estavam se casando? Onde já se viu. Esse mundo está perdido.
- Pois isso não é nada. Outro dia estava eu vendo televisão, quando passou dois homens beijando na boca, uma coisa horrorosa.
- Pior de tudo é a minha vizinha. Separou do marido e agora para um carro diferente toda noite na casa dela, acho que é homem.
- Pois é, não está fácil. Mas você ficou sabendo da morte da Dona Julieta do Manoel Carlos?
- Fiquei sim compadre, aquela foi guerreira. Apanhou do marido a vida inteira, que chegava bêbado em casa, criou os filhos sozinha enquanto o marido vivia na vida e a coitada costurava, lavava e fazia doces pra vender.
- Pois é, essa sim é mulher de verdade. Continuou casada mesmo assim, não é igual as mulheres de hoje em dia que separam por qualquer coisa.
- Os casamentos eram mais sólidos! Lembro da minha falecida, a gente se conheceu num baile de carnaval. Lembro que o lança perfume era moda, hoje em dia proibiram.
- Um absurdo, coisa inofensiva. Agora essa maconha ouvi dizer que mata.
- Mata mesmo, eu lembro que o Dr. Carlos sempre falava que isso ia destruir nossa juventude.
- E que fim teve o Dr. Carlos?
- Ele se mudou faz bastante tempo. Mas morreu, de cirrose. Bebia muito, lembro dele naquela briga no bar do Tonho, foi um escândalo na cidade.
- É verdade, foi com o Luiz Carlos, né? Os dois não guardaram mágoas, lembro que a família até se juntou quando a Lurdes se casou com o filho do Dr. Carlos, passaram a ser donos de metade da cidade.
- É, antigamente havia mais respeito.
- Havia sim, o mundo já não é mais como era antigamente!