Mulher sem rosto

Naquela manhã triste de outono trouxeste, com uma braçada de flores, as lágrimas do seu sofrimento e de sua solidão.

Há anos que encontra-se atrelada ao seu algoz, que lhe faz a vida negra. Tudo é cíclico, e não consegue escapar dessa rede que te prende e que te vai destruindo lentamente.

Por que te entrega, assim aos maus presságios do sono, onde a insônia toma conta da tua solidão?

Vi a noite em seu leito, desvendando as cores negras da velhice e da morte, entre sonhos da vida e do tempo o qual te faz lembrar só momentos de tormentos e sofrimentos.

Mulher sem rosto, já não te ensinou o conhecimento da vida, deixar toda amargura na curva do caminho por um só momento e permitir ao pássaro da felicidade cantar a sua melodia enquanto sucumbem em aflição e morte os que têm o seu tempo chegado? Marcados para sofrer, marcados para morrer.

Os atalhos singelos da vida enchem o teu coração das pequenas alegrias momentâneas de cada dia e formam o tesouro de amor e esperança que atravessará os umbrais da eternidade. Enquanto isso o sofrimento e as lagrimas futuras, permanecerão trancadas no calabouço das desilusões irremediáveis, nas masmorras da alma em decomposição.

É por isso que neste exato momento, embora essas névoas de amargura envolvem o teu semblante ainda jovem, nada deve temer, nada deve deter-te. A tua alforria está próxima. Filha a ressurreição de todos os sonhos, transformará toda amargura em amor.

E o seu frágil rosto terá um novo brilho e haverá glória nos teus olhos tristonhos. E algo novo irá acontecer, e certamente há-de estender à tua frente ramos de flores, rosas de todas as cores e frutos exóticos por onde os teus pés, desnudos e sofridos caminharão em direção das estrelas, onde será acolhida, abraçada e redimida, por sofrer todos os tormentos na terra dos homens, nas mãos dos homens.

Antonio Magnani
Enviado por Antonio Magnani em 15/02/2016
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