O PALHAÇO
Aquela noite era especial para Egídio. Há cinco anos naquele 24 de dezembro ele fizera um transplante de rins. Egídio olhava a todos em volta da mesa e preparava-se para um discurso. A longa espera por um novo orgão deixou o paciente apreensivo. As intermináveis sessões de hemodiálise foram um verdadeiro tormento para o paciente. Durante muito tempo os seus rins aguentaram as noitadas regadas a muitas cervejas e outras bebidas. No entanto os sinais de falência do orgão começaram a surgir quando completou 50 anos. Todos achavam Egídio muito jovem para ter problemas renais, mas a sua vida desregrada o levou a essa situação. A princípio os médicos descartaram o transplante. Todavia com o agravamento do problema os médicos apressaram a operação táo logo surgisse um órgão novo. Egídio perdera cerca de quinze quilos durante longa espera de dois anos, mas manteve a auto estima alta. O seu trabalho não permitia o choro ou a tristeza. Uma das principais exigências de sua função era a alegria e o riso constante. Ele fez um grande esforço para manter-se bem humorado. A maquiagem que ele usava escondia a sua tristeza interior. A esposa e os filhos adolescentes tiveram um papel fundamental naquela espera e posterior recuperação. Antes do transplante ele passava por três sessões com hemodiálise que o deixava muito fraco, mas esperançoso por dias melhores. Os médicos do Hospital do Povo sempre elogiavam o paciente por causa de sua persistência e perseverânça. Os amigos, parentes, e a equipe que fizera a cirurgia estava em volta da mesa. Uma nova chance fora dada a Egídio. Agora ele podia executar o seu trabalho normalmente. Egídio era o palhaço principal do Circo Pistop. Mas também a partir de agora alegraria os pacientes do hospital do qual fora paciente. Afinal as boas ações são contagiantes e não expiram com o passar dos anos. Quanto ao discurso dele, foi rápido. Todos estavam com muita fome, inclusive o orador daquela noite de Natal. Não houve tempo nem para piadas e risos dos presentes.