Menino de Rua

Ali,bem diante de mim, de meus olhos, o menino fruto de uma estirpe milenar, carregando com sacrifício os atavismos e os erros de seus ancestrais, misturados a uma fome que dura já milhares de séculos, e a uma injustiça que jamais funcionará para os pobres,negros e oprimidos.

Esquelético,maltrapilho,faminto e esquecido deslizava célere por entre molambos coloridos e trapos dependurados nos varais. Carnes ressacadas, pernas compridas, olhos incendiados pela tristeza na busca eterna da comida e da compreensão do que o oprimia e desgraçava.

Por enquanto, nem uma gotícula de revolta, por um momento, um olhar vago de tristeza, de ingenuidade, de medo. O seu dia a dia escorria-lhe assim entre míseros trapos e a parca comida que muitas vezes era tirada do lixo, o que mantinha ainda viva a chama da vida, e da esperança.

Sem esperança, sem futuro, semi analfabeto, ouviu falar de trabalho, sentia na pele e na alma caleçada o esforço de cada minuto na recolha de papéis velhos, garrafas vazias, restos de monturo, restos de todos nós .Tudo é cíclico: miséria, pobreza, promiscuidade, analfabetismo,cola de sapateiro, crak, subnutrição, e abandono por todos nós, homens de nenhuma vontade.

Cada um de nós que passa a cada dia indiferente,insensível,sem coração. Cada um de nós, eu e você e toda a sociedade que se diz civilizada, responderá por parcela de todos os crimes e crueldades que esse menino amanhã cometerá, porque somos parte desta máquina gigantesca, dantesca, que avassalando tudo e todos, nos faz esquecer que somos todos irmãos,de braços dados ou não.

Antonio Magnani
Enviado por Antonio Magnani em 11/02/2016
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