DONA MARIINHA.
Na primeira semana que antecedia o carnaval, em uma cidade situada às margens de uma ferrovia, onde um grande rio banhava o local, na comunidade onde a pesca era uma atividade econômica para o município, morava uma senhora por nome de Maria, mas carinhosamente era chamada de Dona Mariinha.
Senhora simples, honesta e trabalhadora. Com seu trabalho de pescadora pode criar os seus três filhos, porque ficara viúva muito cedo em virtude de um naufrágio da barca, onde seu marido e outros dois pescadores navegavam em busca dos lindos e preciosos peixes dourados.
O tempo passou. Novas conquistas vieram e Dona Mariinha enfrentava todos os obstáculos que a vida lhe oferecia. Passava seus apuros, mas sempre tinha uma saída para tudo.
Seus filhos cresceram e o tempo passou.
Em sua vida diária, Dona Mariinha tinha um gosto, ou melhor, uma paixão violenta pela escola de samba do Rio de Janeiro. Não sei ao certo qual seria o nome da escola, mas o seu sonho era poder ser homenageada e desfilar no Rio de Janeiro. Para seus amigos, este sonho era impossível, porém, para ela, ele seria realizado antes de seu falecimento. Ela também pediu para ter a bandeira de sua escola de samba posta em seu caixão, quando viesse a falecer.
Os anos se passaram. Muita coisa mudou. O telefone não é o mesmo, o computador apareceu no Brasil, as redes sociais cresceram e as pessoas mudaram e envelheceram.
Dona Mariinha ainda curtia o carnaval. Vestia a camisa de sua escola, ficava à frente da televisão acompanhando o desfile. Soltava fogos quando sua escola era campeã, mas também ficava triste quando perdia. Assim era sua vida.
Já bem velhinha, sem muita pretensão à vida, Dona Mariinha ficou muito doente. Teve de ir às pressas para o Rio de Janeiro para tratamento de saúde. Seu caso era grave, mas não perdia a esperança de realizar seu lindo sonho: desfilar na escola de samba de seu sonho.
No hospital, conheceu uma médica muito influente. Sabia de tudo. Era ela mesma quem fazia o acompanhamento de saúde de sua nova paciente. Ficaram muito amigas e Dona Mariinha confidenciou o sonho de desfilar na escola de seus sonhos.
Já se iniciavam os preparativos para o carnaval. O Rio de Janeiro estava em clima de carnaval. Turistas chegavam a todo instante. Nos aeroportos, nas estações e nas rodoviárias, uma fila de pessoas desfilava a cada momento.
Dona Mariinha, em seu leito triste daquele hospital, ouvia em silêncio o comentário dos enfermeiros, dos auxiliares de saúde sobre o carnaval. Sentia-se feliz quando a manchete era o nome de sua escola. Ela até sentia-se mais animada, porém o seu quadro de saúde a cada dia tornava-se pior.
No dia do desfile de sua escola do peito, a Doutora veio até Dona Mariinha e lhe disse que iria fazer-lhe uma surpresa. Com apoio médico, a Doutora conseguiu que Dona Mariinha pudesse desfilar na escola. E não parou por ai. O presidente desta escola era o tio da Doutora. Esta contou-lhe o caso de sua paciente.
Naquela noite Dona Mariinha foi homenageada, desfilando toda sorridente na avenida, mesmo acompanhada de sua equipe médica. Diante da televisão, seu rosto era só alegria. Realizava-se, então, o grande sonho.
De volta ao hospital, Dona Mariinha durou poucos dias, ou melhor, aguardou somente o resultado da apuração, soube que sua escola foi novamente a campeã.
Olhando à sua volta, Dona Mariinha agradeceu à sua médica com um sinal de cabeça e entregou sua vida a Deus. Seu enterro cumpriu rigorosamente aquilo que queria. Foi enterrada com a bandeira de sua escola de samba preferida, ao som do samba campeão do ano e uma frase que ela sempre dizia:
- Nunca abandone seus sonhos. Um dia eles serão realizados.