PARA NÃO DEIXAR AINDA MAIS ESCABROSA A HISTÓRIA DO BRASIL

E num futuro distante...

Conselho Nacional de Ensino. Reunião de mestres pedagogos. Em redor de uma enorme mesa pouco adornada, estão sentados os principais educadores do país. A reunião anual é para definir os conteúdos programáticos de ensino; apresentar melhorias e estratégias de aprendizagem, além de explorar propostas para os rumos das disciplinas levadas em salas de aula de todas as escolas da nação. O secretário geral de educação faz a apresentação dos novos coordenadores e dos assessores do departamento de ensino. Entre aqueles está o professor Albuquerque, responsável pelo departamento de História cuja oportunidade ansiosamente esperada enfim lhe é gentilmente cedida. O erudito professor levanta-se da cadeira e pede que liguem o equipamento de projeção de imagens para apresentação de sua proposta. Todos os olhares se voltam para ele e depois para o filme.

- Senhoras e senhores do Conselho – começa o professor – a fim de potencializar a reforma que nos propomos na administração do ensino em todo o país, venho propor, uma mudança substancial no conteúdo da disciplina de História do Brasil. Mudança essa que não será de acréscimo, pelo contrário, proponho uma subtração do período, que para mim e para a grande maioria dos professores de história é absolutamente insignificante.

Dito isso o professor inicia a apresentação de um curta metragem sobre um quadro negro através do projetor. O filme mostra um momento sombrio da história do país. A ascensão vertiginosa e a queda desastrosa do Partido dos Trabalhadores. Mostra o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva como herói da nação no distante início dos anos 2000, e tempos depois, atrás das grades acusado de envolvimento no esquema de corrupção que mais vergonha provocou ao país diante de todas as demais nações do planeta. Mostra sua sucessora fantoche, Dilma Rousseff, diante do processo de Impeachment perpetrado por indivíduos também envolvidos no escândalo de corrupção que manchou a história da democracia da nação. As cenas mostram as causas e efeitos do governo (ou deve-se dizer desgoverno) do Partido dos Trabalhadores daqueles tempos distantes. A crise que se instalou em âmbito nacional por conta da roubalheira generalizada. Inflação, desemprego, insegurança, caos na saúde pública.

- Essa parte da história, meus senhores e minhas senhoras, deve ser lançada no mar do esquecimento. Quem vai querer saber de governo que nada acrescentou de bom para esse país? Qual legado que essa miséria de administração estatal deixou para nós? É um desserviço ensinar esse lixo histórico às nossas crianças. Portanto, proponho a exclusão desse conteúdo de nossa disciplina. Ademais, ensinar isso nas escolas é o mesmo que dar aula de corrupção. Já faz tempo que fizemos uma relevante faxina política no país, se deixarmos o resquício da sujeira para ensinar ao nossos alunos, corremos o risco de ressuscitar o tenebroso fantasma da maldita corrupção daquela distante época.

A discussão se acirrou na sala de reuniões em torno do assunto. A grande parte dos componentes do conselho concordava com o professor Albuquerque, mais uma interessante questão foi levantada.

- Professor eu concordo com seus termos – disse o secretário geral – mas creio que não devemos esquecer a importante participação daqueles que debelaram o escândalo de corrupção daquela época. Como ficam os verdadeiros heróis desse período histórico? Devem ser sacrificados e sumariamente esquecidos? É isso que o senhor propõe?

- Infelizmente, senhor secretário, os heróis tendem a ser esquecidos. Quem é mais lembrado Cesar Augusto ou Nero? Gandhi ou Hitler? Trotsky ou Stalin? Os vilões sempre suplantam os heróis na história. Não será diferente com os outrora famosos agentes da Operação Lava Jato. A propósito, alguém lembra o nome de algum dos “mocinhos” da Operação? Vamos lá... Alguém? Levantem as mãos. Vamos lá... Pessoal de história... Ninguém? Está vendo senhor secretário? Por isso reafirmo minha proposta. Acho que não seria bom para o futuro do ensino no país que aquela corja do passado viesse a ser considerada a salvadora da pátria. Como era comum no passado que os malfeitores se convertessem em heróis. Não devemos correr esse risco. Não concorda?

O secretário geral ficou pensativo. Talvez o professor estivesse com a razão. Afinal o que foi aquele período da história senão uma ópera bufa da pior qualidade? Não serviria nem para o mais toscos dos poemas épicos. E já que o próprio povo não se interessava mais por aquele episódio...

- Está bem, professor. Sua proposta será submetida a especial apreciação do Ministério com unânime anuência deste conselho.

Agora passemos para assuntos mais importantes em pauta.

al morris
Enviado por al morris em 03/02/2016
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