A Quadratura do Círculo-cap. XI

-Quanto tempo, entrem ! Como você está bonita. E você? Tá ficando careca, hein?

Como há pessoas sem educação; não me vê há séculos e ao invés de perguntar sobre meu trabalho, sobre minha coleção de figurinhas, tem o prazer de ser inconveniente.

-Estou fazendo um novo curso de estética facial pós-moderna; por que você não vai?

-Depois de minha viagem a Birmighan, passamos uma temporada em Assuncion- esse era o marido.

-Ih, mas aquela sujeira! Que diferença da Inglaterra; ali, sim, é civilização.

Não estava mais suportando aqueles “picolli borghese , quando :

-Essa é minha filha!

-O,oi!

Era linda; reparei logo; Paloma me fuzilava com os olhos, mas não pude deixar de reparar naquela obra da Natureza materialista pequeno-burguesa.

-Eu vou fazer comunicação, depois teatro e TV.

Predicados tinha, mas via-se que não era daquelas que estudariam física nuclear ou que abrisse um livro por dez minutos. Mas...encantadora!

Logo chega Rufino, com uma nova namorada; graças a Deus, alguém com quem conversar.

-E aí, mano, viu a gata?

-Oooi!

Essa era pior que a outra, só que mais nova. Ridículo; deveria ser vint anos mais nova que ele, que queria parecer jovem. Paloma reparou nele; eu percebi; disfarçou bem, mas perguntei :

-Como vai lá na Bolsa?

-Ih, muito duro, mas vendi muitas ações; um quis me passar para trás, mas- seus olhos se encheram de sangue e viam-se as veias saltarem- eu arrasei todos; ganhei muito- tornou-se jovial- agora posso convidar vocês prum churrasquinho na ilha. E vocês ?

-Ah- olhou com desdém para mim- ele continua com essas coisas intelectuais- frisou as sílabas- traduções, revisões...

-Estou traduzindo Homero diretamente do grego...

-Não diga? –não escondeu certa admiração-como eu queria ser capaz disso!

-Mas você ganhou muito dinheiro, né, amor?

-Meu marido acha que podemos viver na Grécia antiga, vestir lençóis e tocar lira !

-Não fale assim-Rufino apartou- esse cara é cabeça!

-Cabeça não enche barriga !

-Amor, vamos falar com aquela moça; divina roupa !- afstaram-se.

-Precisava me humilhar ? –falei, bronqueado- Por que menospreza meu trabalho, minhas convicções, meus pensamentos ? Vamos embora !

-De jeito nenhum. Eu vou ficar na festa !

Então fique sozinha !

Saí de supetão, sem me despedir de ninguém.

-Espere!- ela vinha, arrastando os saltos- tinha aquele ar fresco e jovial, de quando a conheci- não vou ficar sem você !

Abraçamo-nos, como antigamente. Começamos uma fase mais tranquila; ela fez aqueles bolinhos de chuva que adoro, foi àquele recital de Mahler, mesmo a contragosto, perdendo a novela. Concordei em em almoçar na casa dos Brontolonni, a família dela. Concordei? Droga !