Motorista de carros de praça
Estava carregando muitas sacolas de super-mercado recheadas de mantimentos. Lembro-me bem que o trajeto que deveria fazer era longo.
Mas, pela surpresa minha, o motorista de taxi, um jovem que beirava os vinte e cinco anos resolveu não cobrar a tarifa necessária para trafegar de cidade para cidade. Ele falou:
- Fica por cinqüenta reais.
Sabia que o preço da corrida era salgado e resolvi, sem cerimônias, aceitar a oferta por não achar outra opção no momento.
Sou um sujeito que vai todos os dias de casa para o trabalho e vice-versa, tendo vinte e nove anos de serviço público. Continuei a conversa com o jovem rapaz, uma pessoa de cabelos longos, que usava óculos parecidos com o do John Lennon.
- Sabe meu rapaz, dirigir um carro não é coisa para mim, pois estou com sério problema em meus ombros. Tinha um Chevette, mas já não está comigo ( o trabalho que fazia era braçal, o que ocasionou luxações em meus ombros ...).
A conversa corria solta, parecíamos velhos amigos. Sua família era do nordeste: dizia não se importar em trabalhar para conseguir o sustento da família. Certamente, a fisionomia parecida com Lampião, era só coincidência. No final da prosa ( Já estávamos em
casa), uma atitude me surpreendeu: o sujeito gentilmente e com rapidez considerável fez questão de abrir a porta do taxi a minha direita e levou as compras até porta de minha residência.
Muitos motoristas de taxi na grande Porto Alegre facilitam o troco, não exigindo de seus clientes a quantia certa para o serviço, ou seja, menos que o devido.
Assim, constato que hoje em dia ainda existem os velhos resquícios de gentileza que muitas pessoas, não sei o porquê, não cativam. Graça a Deus, não acontece isto com os motoristas de taxi antigamente chamados de carros de praça, provavelmente de “boa praça”.