A loteria esportiva

A loteria esportiva

Quincas estava sempre fazendo suas apostas na loteria esportiva. Toda semana estava ele fazendo seu jogo, não faltava uma semana se quer.

Naquele tempo, década de setenta, o valor da aposta simples com um duplo era Cr$ 2,00 (dois cruzeiros novos). A loteria esportiva surgida há pouco tempo, era de certa forma um entretenimento para os torcedores de futebol, esporte que predominava na cidade. Era composta de 13 jogos.

Além de estar arriscando a sorte, era também uma maneira de divertir aos finais de semana, ficando com o ouvido colado no radinho para saber os resultados, pois por àquelas bandas a tal tv ainda era privilégio de poucos, além de não ter transmissões assíduas de jogos e nem programa esportivo como os de hoje. Também as únicas loterias que existiam eram a estadual e federal de bilhetes. E como o dinheiro era curto, a maioria fazia apenas um jogo simples.

Ele estava sempre a fazer 11 pontos e doze já havia feito uma vez.

Quincas era filho adotivo, sempre quando ia para o trabalho, passava na casa dos seus pais adotivos, já que era caminho.

Naquela semana ele riscou o jogo e ficou na dúvida no jogo 12, Corínthians x Botafogo, onde colocaria o duplo e não tinha dinheiro suficiente para fazer um triplo.

Fez então dois jogos, marcando o duplo no Corinthians e o outro no Botafogo. O valor dos dois jogos ficavam em Cr$ 4,00 (quatro cruzeiros novos), ele só tinha Cr$3,00.

Pensou: já sei, amanhã desço mais cedo e peço Gracinha 1 cruzeiro emprestado. Gracinha era sua irmã mais velha.

E assim o fez.

Antes das sete horas da manhã já estava lá. Mas para sua decepção, sua irmã não quis emprestar.

Ele insistiu então, para que ela entrasse de sociedade com ele, mas ela também não quis.

Sem opção, ele então escolheu um dos bilhetes e fez o jogo. Guardou o outro.

Diferente do que normalmente fazia no final das tardes dos domingos, onde ficava acompanhando os jogos, naquele ele deixou para pegar apenas o resultado.

Bilhete e caneta na mão, ouvido colado no rádio, porque as pilhas estavam fracas e as ondas insistiam em carregar para longe a voz do locutor.

Deu início a coleta dos resultados... seu coração começou a disparar pois ele estava acertado todos os jogos. A ansiedade começou a tomar conta quando já no jogo 10 havia acertados. Seu coração parecia sair pela boca, quando acertou também o jogo 11.

Veio o jogo 12, ele errou... deu botafogo e ele havia marcado vitória do Corinthians.

Jogo 13, ele acertou. 12 pontos.

Imediatamente lhe veio um desconsolo, um certo desespero, enfiou a mão no bolso e tirou o outro cartão que não havia jogado... ali estaria os 13 pontos.

Se sua irmã tivesse lhe emprestado ou mesmo associado a ele, estariam ricos agora – pensou ele.

Os dias que se seguiram foram de muita tristeza e desconsolo pra ele, porém ele fez o tinha que fazer, o que estava no seu limite, mas imagina-se que para a irmã Gracinha, a dor do arrependimento deve estar acompanhando-a até hoje, pois ela tinha o dinheiro para emprestar ou associar.

Diz o ditado que cavalo arreiado não passa duas vezes na vida de uma pessoa...será??

Menino Sonhador
Enviado por Menino Sonhador em 22/01/2016
Reeditado em 19/05/2016
Código do texto: T5519993
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