A mil milhões de anos-luz de casa

A ti, para sempre e com amor

“This is Major Tom to Ground Control,I’m stepping trough the door

And I’m floating in a most peculiar way

And the stars look very different today”

(...)“Though I’m past one hundred thousand miles,I’m feeling very still,

And I think my spaceship knows which way to go.

Tell my wife I love her very much she knows”

Space Oddity

David Bowie

Lembras-te quando parti?

Sim, tal como me recordo, porque esse foi o último dia em que estivemos juntos, o momento da partida foi o nosso derradeiro momento e, por isso, mesmo que não o queiramos, mesmo que esse dia, um dia tenha tantos dias de distância, uma distância maior do que a de hoje, esse dia foi marcado na nossa memória com o selo da dor, aquele tipo de dor que queima silenciosamente por dentro, um fogo perpétuo, um fogo perene, imortal.

Por isso, e apesar de ter tantas coisas com que me ocupar, tantos assuntos a ocupar a minha cabeça, apesar de seres apenas uma entre tantas estrelas, apesar de o seu brilho não se distinguir das outras, sei, no meio delas qual é a tua.

Não sei se isto acontece porque essa estrela representa a minha casa, ou se acontece por ti, não sei, porque se te consigo distinguir entre tantas estrelas, não consigo distinguir o motivo de mesmo querendo, não te conseguir esquecer.

E a mil milhões de anos- luz de casa, não é essa luz que nos vai separar para sempre, nem muito menos o espaço infinito que separa o teu corpo do meu, o que nos separa é a maior das forças do universo, uma força escondida, que não ocupa nem uma linha num livro de, uma força que me vai fazer estar sempre, cada vez mais distante, e que me impede de me aproximar de ti, ou ir-me aproximando, o que nos separa é a vontade, uma força que define tantas vezes o destino de homens e mulheres, a vontade que também vai determinar o nosso, porque apesar de te amar essa força impele-me para o sentido oposto onde estás, e assim essa força impede-me de voltar, de regressar.

A mil milhões de anos-luz de casa ,literalmente, porque apaguei da memória os atalhos espaciais, que faziam com que a casa estivesse a horas de distância, e não a uma impossibilidade de distância.

A mil milhões de anos-luz de casa, a uma distância que nos transcende, porque sendo tão grande somos incapazes de a imaginar, amo-te, vou continuar a amar enquanto a distância não pára de aumentar, amo-te, cada vez mais, um amor que vai aumentando à medida que aumenta a distância, amo-te mas tal não me serve rigorosamente para nada.

Amo-te

A mil milhões de anos-luz de casa

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 22/01/2016
Reeditado em 22/01/2016
Código do texto: T5519175
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