A DESILUDIDA

A DESILUDIDA.

GAMA GANTOIS.

Clara nascera em berço de ouro. Era filha única. Seu parto foi muito difícil, quase que mãe e filha partem dessa pra melhor. Não sei se por causa disso, ou por algum fator genético,já que seu pai era um homem frágil, Clara tinha a saúde muito delicada. Quando menina, ao contrario das outras garotas, não podia tomar sol, chuva ou vento que a sua saúde ficava abalada. Assim cercada de carinhos e de cuidados médicos o botão desabrochou. Clara se tornou uma linda mulher, talvez a mais cobiçada mulher do Rio de Janeiro. Mas, o interessante é que não se interessava por nenhum garoto. Sua mãe, aflita indagava constantemente se ela tinha namorado se gostava de algum guri, e tinha a negativa como resposta.

À noite mãe e pai conversavam sobre a filha. O pai um sujeito que só pensava em dinheiro e que dizia a boca pequena que no lugar dos olhos tinha CR cifrão, e na cabeça uma máquina calculadora tentava acalmar a esposa.

- Calma mulher. Tudo no seu tempo certo. O tempo de Clara para o namoro ainda não chegou. E depois pra que pensar em casar já. Clara ainda tem muito o que viver. E depois, nossa filha não é pra qualquer bico. Nossa filha tem tudo do bom e do melhor. Quem poderá dar a ela o conforto e o luxo que nós lhe damos? Diga mulher! Quem?

- Olhando por esse ângulo, você tem razão. Mas, eu vejo as outras coleguinhas dela sonhando com o príncipe encantado, e nossa filha nada. Será que não há algo de errado com ela?

_ O que pode haver de errado com nossa filha? Ela é rica, rica não, riquíssima, milionária, bonita, aliás, bonita é pouco. Nossa filha é lindíssima, inteligente, culta. educada nos melhores colégios. Nossa filha sobra na turma. Portanto, sossega o periquito, mulher!

- Por isso mesmo é que me preocupo com ela.Se ela é tudo isto, porque os rapazes fogem dela?

- Mulher, mulher. Os rapazes não fogem dela, ela é que não os quer. E quer saber? Acho que ela faz muito bem! A maioria desses famintos querem o dinheiro dela.

-Não exagera. Sabe de uma coisa? È melhor a gente dormir.

Na verdade, d. Amélia era esse o nome de mãe de Clara já tinha resolvido ter no dia seguinte uma conversa muito séria com a filha a esse respeito.

Quando Clara chegou do colégio, d. Amélia a chamou para ter tal conversa. As duas se trancaram no quarto da mãe. Morta de curiosidade Clara vai direto ao assunto:

- Pronto mãe. Diga lá. O que você quer comigo?

- Bem, minha filha é este seu comportamento. Não a vejo se interessar por nenhum rapaz. O que há contigo? Não gosta de homem? È isto? Fala! Abre o seu coração. Eu sou sua mãe vou saber lhe compreender. Vamos lá fale!

-Não é nada disso. Se você está pensando que sou gay, pode tirar o cavalinho da chuva. Não tenho tendência para ser homossexual. Sua filha é mulher até debaixo d’água.

- Mas, então porque nunca lhe vejo com algum rapaz?

- Mãe. Eu tenho um ideal de homem. O homem que eu quero, que desejo, tem que ser gentil para comigo, educado, ter uma personalidade forte, posto que não gosto de homem do tipo Maria vai com as outros.Ter um cultura acima da média, ter caráter, que tenha a mesma posição social nossa, e sobretudo, que me ame de verdade..

- Minha filha, esse homem não existe.

-Se não existir, se eu não o encontrar, morri pro mundo. Eu juro por tudo que é mais sagrado, que eu entro para um convento, daqueles mais radicais. Aquele da clausura.

-Deus te livre, minha filha. Deus te livre. Não diga uma asneira dessa.

- Não é asneira. Ê a minha realidade;

Amélia entrou naquela conversa com um tipo de preocupação e saiu com outra. Já estava até desejando que a filha fosse gay. Preferia a filha gay do que freira.

A FESTA

Aproximava-se o aniversario de 15 anos da Clara. A família então, se reuniu e ficou decidido que haveria uma grandiosa festa. Seu Fagundes, o pai foi taxativo:

- Gastem. Gastem a vontade. E apontando pro bolso: dinheiro há, dinheiro há.

Então, família começou uma mobilização total para organizar a grandiosa festa. A primeira grande tarefa era encontrar um vestido que fosse digno da menina-moça. A palavra final caberia ao pai, seu Fagundes. Este, nada entendia de moda, e só fazia uma pergunta:

- Quanto custa? Fosse qual fosse o preço achava barato. Indigno da minha princesa, conforme apregoava.

As mulheres da família andavam enlouquecidas em busca do vestido perfeito. Até que depois de buscas intermináveis alguém achou numa revista de moda francesa o precioso vestido. Era uma fortuna. Dona Amélia, achou um desperdício, um exagero e foi falar com o marido. Este ao ouvir a esposa esbravejou: - qualquer fortuna que gaste para comemorar o aniversário de quinze anos da minha filha é pouco!.

Tudo arranjado a festa foi um deslumbre. Lá estava toda a sociedade carioca. Os jornais especializados não falavam noutra coisa. Colunistas sociais davam notas e mais notas sobre evento na esperança de serem convidados.

Durante a festa, Clara conheceu Vitor, ou melhor, Dr. Vitor um jovem recém formado em Medicina. Conversaram bastante, dançaram até hora da valsa. Quando Clara dançou com o pai.

Clara e Vitor não se desgrudaram. Terminada a grande recepção Vítor ficou de ligar pra moça. Assim, os dois jovens passaram a se encontrar quase toda a semana. Tornaram-se inseparáveis, para a felicidade da família da Clara. Os meses foram se passando e casal cada vez dando a impressão de uma paixão avassaladora. Certo dia, clara chama a mãe num canto e pergunta:

- Mãe. Há algo errado comigo? Por acaso sou feia? Desagradável? Desinteressante?

-Não, minha filha. Por quê?

- Então. Porque será que o Vitor depois desse tempo todo saindo comigo, nunca me beijou? Nunca me falou que me ama? Eu sinto que ele gosta de mim, mas, então porque não diz?

- Porque você não faz essas perguntas diretamente a ele?

_ È o que vou fazer;

Logo que se encontraram, Clara carinhosamente segurando a mão do rapaz, olhando bem dentro dos olhos perguntou a razão pela qual, ele nunca a beijara, muito menos falava dos seus sentimentos?

Vitor, olhando firmemente para moça lhe perguntou;

-Quer saber a razão?

-Sim, eu quero.

_ Pelo simples fato que sou Gay.

Naquele mesmo dia Clara, desiludida, entrou para Ordem das Carmelitas Descalças.

Gama gantois
Enviado por Gama gantois em 19/01/2016
Reeditado em 26/01/2016
Código do texto: T5515777
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