O CIUMENTO

O CIUMENTO.

GAMA GANTOIS

Foram criados juntos, advindo daí uma amizade eterna. Eram unha e carne, onde um estava lá estava o outro. Se fossem irmãos não seriam tão unidos. Tinham o mesmo modo de pensar, os mesmos gostos e mesmo gênio.

O tempo passou e os meninos de ontem, se fizeram os homens de hoje. Jorge e Olavo continuaram com amizade. Ambos pediram inscrição no clube da boemia. Assim, de boemia em boemia, foram levando à vida, até um dia, quando Olavo anunciou sua intenção de se casar com Luiza. Foi um reboliço, um rebu dos diabos. Afinal, não é todo dia que um boêmio, renuncia á esbórnia, para ingressar no rol dos homens sérios.

Luiza morava no mesmo bairro, ou melhor, na mesma rua e, portanto, conhecia bastante os dois amigos, tanto que convidou Jorge para ser o seu padrinho de casamento, aceito na hora pelo o convidado.Seis meses depois aconteceu o casamento entre Olavo e Luiza.

A amizade entre os dois amigos continuou mesmo depois do casamento. Pelo menos uma vez por semana, Jorge jantava com o casal. Já aos domingos, era certa a presença do amigo no almoço familiar.

Pois bem. Num desses almoços dominicais, Olavo pergunta ao amigo porque ele não decidira se casar. Com intenção de motivar o amigo, Olavo resolveu falar sobre a sua vida de casado com Luiza:

_ Veja, amigo Jorge, como a minha vida mudou! Há homem mais feliz do que eu na face da terra. Para a minha felicidade ser completa só falta um herdeiro, coisa que nós já estamos providenciando. Case homem de Deus. O casório é bom pra chuchu.

Bem, disse Jorge:

- Eu não me caso pelo simples fato de ter ciúmes. Sou ciumento da cabeça aos pés. Sou capaz de dar tiros, de subir nas paredes com lagartixa profissional.

- Bobagem. Arranje uma mulher como Luiza e você não terá motivos nenhum pra ter ciúmes.

_ Meu caro. Luiza é única. Quem a fez jogou a forma fora. Você tirou a sorte grande. Disse Jorge.

O que é isto? Falou Luiza vermelha de vergonha. _ Com tantos elogios vocês me encabulam. Sou apenas uma mulher que ama o seu marido. O amor tem força, tem poder, e depois, quem ama não trai muito menos dá motivos. Você não conhece aquela frase atribuída a Cesar, Imperador romano: “ Não basta a mulher de César ser honesta. Ela tem que parecer honesta” Pois, então, eu sou assim.

Terminado o almoço Jorge se despediu, enquanto Olavo subiu para o quarto do casal, para como ele mesmo dizia “tirar uma pestana”. Luiza ficou no andar de baixo, pois, tinha coisas a fazer. Passado algum tempo, Luiza ligou o telefone. Do outro lado da linha atendeu uma voz masculina:

-Sou eu.

- Você? Perdeu o juízo? Seu marido não está em casa? Filha isto é uma imprudência, uma temeridade. Pode por tudo a perder.

-ao diabo a prudência, a temeridade. Estou morrendo de saudades e precisava ouvir a sua pelo menos mais uma vez-

- Bem, agora você já ouviu beijos e tchau!

-Grosso, estúpido, mas eu te amo, mesmo assim.

- Eu também.

Foi Luiza desligar o telefone Pro marido que acabara de acordar perguntar:

- Filha, estava falando com quem?

- Com mamãe. Ela mandou um abraço pra ti.

- Outro pra ela.

No dia seguinte, antes de sair para o trabalho, Olavo falou para esposa:

_ Minha querida. Prepara um jantarzinho bem gostoso, caprichado, aliás, como é hábito seu, pois, vou convidar o Jorge pra jantar conosco.

- Mas, meu filho tentou ponderar a mulher, - Hoje não é quarta – feira! de mais a mais. o Jorge almoçou conosco ainda ontem. Você não acha que é Jorge demais na nossa intimidade?

- E desde quando um amigo tem data certa pra visitar outro amigo ou é demais na vida de um casal?

- Ta bem! Você é quem sabe. Você manda e sua esposinha obedece.

- Você é um amor. Você não existe. Beijos.

- Beijos.

Ao chegar ao escritório, Olavo não perdeu tempo. Ligou o telefone pro amigo. E mesmo antes de dar bom dia, foi dizendo:

- Jorge. Eu e Luiza estamos lhe convidando pra você jantar conosco esta noite. Te pego ás sete, OK?

- OK.

Ás sete horas em ponto, o anfitrião foi buscar o convidado. Durante a viagem toda, Olavo não parava de falar. De repente veio à pergunta seca, direta incisiva.

- Como vai o teu ciúme?

-- Mais ou menos.

- Mais ou menos como? Ou vais mais ou ai vai menos.

- Meus ciúmes vão mais ou menos até segunda ordem.

- Olavo pigarreou e fez a pergunta que há muito tempo queria fazer:

- Teu ciúme seria capaz de matar? Terias coragem?Fala! Terias?

“Jorge tentou mudar de assunto, mas, o outro insistia: -” Confessa. Terias?

- Teria sim. E por que não? O sujeito que encostasse a mão na minha mulher, eu matava tranquilamente.

Ao ouvir a resposta do amigo, Olavo começou a rir de satisfação.

Durante o jantar Olavo se esmerou em carinhos com Luiza. Beijou-lhe a boca sapecando aquele beijo longo de homem apaixonado, a colocou a esposa no colo, atirava beijos no pescoço, fez-lhe mil carinhos a ponto de Luiza envergonhada indagar:

- O que está havendo, meu filho? Você bebeu?

Então, Olavo chutando a cadeira e empunhando uma pistola f

gritou:

-Então canalha!

Luiza assustada quase gritando falou:

- o que isto homem de Deus? Perdeu o juízo?

Na sua cólera Olavo mostrando um papel vociferou:

- Estão vendo esta carta? Vocês conhecem a Rua tal, número tal? Conhecem? È o endereço onde vocês vêm se encontrando. Nesse momento voltando-se para o Jorge lhe diz:

- Então, canalha. Onde está o seu ciúme? Luiza é mulher compartilhada entre nós dois. Você não tem ciúmes de mim?

- Você é o marido e marido tem direito.

Rapidamente Olavo falou:

_ È, o marido tem direitos, é certo, mas, o amante não tem direito algum, ou melhor, tem direito sim. Tem direito a morrer. E quer saber de uma coisa? Eu sou igual a você. Também sou ciumento. Sou capaz de matar tranquilamente o sujeito que ousar colocar as mãos na minha mulher.

Olavo apertou o gatilho uma, duas, três vezes. Só parou quando teve a certeza da morte do outro.

Volta-se para Luiza com aquele ódio no olhar e gosto de sangue na boca. Tremendo igual a uma geléia Luiza suplica;

_ Por favor, querido, não me mate.

-Sossega o periquito. Eu só mato os amantes de minha mulher.

Gama gantois
Enviado por Gama gantois em 16/01/2016
Reeditado em 30/01/2016
Código do texto: T5513315
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