' SANTA RUTH"
“SANTA RUTH”
Gama Gantois
Horácio aparece radiante na repartição onde trabalhava. Estava eufórico, pois, à noite, finalmente ficaria noivo de Ruth. Ruth era a mulata mais honesta do Rio de Janeiro. Fora assediada por vários homens, mais a nenhum concedera seus favores. Era uma cidadela inexpugnável.Um poço de virtude. Dizia a torto e a direito para quem quisesse, ouvir : - Minha primeira vez será casada, com o homem que eu escolher para ser pai dos meus filhos.
Não era jogo duro. Era uma questão de princípios. Um dia conheceu Horácio, seu colega, de repartição, mas que, no entanto trabalhava em outro andar. Foi dessas paixões fulminantes. Ruth logo percebeu que seria presa fácil para aquele homem. Por isso, tentou tirá-lo do pensamento, mas, quanto mais lutava para esquecê-lo mais pensava nele. Horácio parecia ignorar a moça, até que um dia o canalha do Moreira, homem sem escrúpulo resolveu ter uma conversa bastante séria, com Horácio. A sós trancados no gabinete do diretor, Moreira cuspiu fogo.
_ Olha aqui sua besta. Você não é cego, pois não?
- Claro que não. Enxergo muitíssimo bem.
-Então. Você não está vendo a bola que aquele mulherão da Ruth está lhe dando?
- Meu caro. Quem sou eu pra ter essa sorte.
_ Não seja burro homem de Deus! Vá lá; Entra de cabeça! Mete os peitos
Horácio seguiu o conselho do pulha do Moreira. Deu certo. O namoro engrenou. Depois, de seis meses de relação resolveram ficar noivos. O tempo passou e o grande dia chegou. Por isso, Horácio estava felicíssimo. Foi de mesa em mesa convidando seus colegas para festa de noivado que seria realizado na casa da noiva, na Boca – do – Mato.
A festa transcorreu conforme fora planejada. Sob as benções das famílias, o casal assumira o solene compromisso de contraírem núpcias dali a quatro meses.
Dois dias depois do noivado, Horácio recebe a visita do seu irmão na repartição. Este com ar um ar circunspecto e bastante solene queria ter um conversa a sós com o mano.
- Meu irmão, disse Roberto em tom sério e formal. Você não pode se casar com Ruth. Ela não merece o seu amor, o seu carinho;
-Não diga besteira. Ruth é um poço de virtudes. Acredite que só depois do noivado ela me permitiu beijá-la na boca. Na boca, mas, com os lábios fechados.
- Está jogando contigo.
Horácio levantou-se caminho até á porta e disse aos berros;
_ Fora! Fora canalha. Ruth é uma santa. Só não lhe dou um tiro nessa cara, porque você é meu irmão. Mas, nunca mais, ouviu bem, nunca mais me venha aqui para enlamear o nome de uma santa.
- Ta bem; Estou indo, mas depois não diga eu não lhe avisei.
-Fora! Fora!
À noite quando se encontrou com a noiva, Horácio lhe contou o ocorrido com seu irmão. Então, com a tranqüilidade de uma noite estrelada, Ruth perguntou:
_ Mas, que diabos o meu cunhado queria lhe dizer a meu respeito. Meu filho, você me conhece. Sabe que a minha vida, foi, é e será sempre pautada pela correção. Mas, afinal o que ele lhe disse:
- E eu deixei a cavalgadura do meu irmão falar de você? Botei ele pra fora como se fosse um cachorro leproso. E disse mais. Se ele voltasse a falar de você eu lhe dava um tiro na cara.
- Fez muito bem, meu filho. Por causa disso você já está merecendo um beijinho na boca, mas, só um viu, seu garanhão?
O tempo passou. Quando faltavam dois para o matrimônio Horácio estava trabalhando quando toca o telefone. Atende. Era Ruth que em prantos, chamando o noivo: “Vem chispando! Vem!”. Atônito, Horácio ainda pergunta: “Mas o que foi? Conta o que foi?”. E ela: — Pelo telefone não posso! Só pessoalmente! Horácio larga o trabalho, larga tudo, e voa, de táxi, para a casa da noiva. Quebra a cabeça no caminho: “Que será?”. Vai encontrar Ruth mais calma. A menina ergueu-se ao vê-lo: “Vamos conversar lá dentro, vamos”. Leva-o para o gabinete. E, lá, ela lhe diz:
_ Nosso casamento é impossível.
_ Que brincadeira é esta? Impossível por quê?
- Porque eu não sou quem você pensa. Que sou. Na verdade tenho outro homem. Foi esse homem quem me tirou, da chamada vida fácil arranjando um emprego público.
Eu não posso me casar com você.
- Quem esse cachorro?
- Eu! Foi aquela surpresa. Roberto estava escondido aguardando apenas a deixa para aparecer.
-Você? Meu irmão de sangue?
- Escuta Horácio, por favor, escuta. Eu conheci a Ruth muito antes de você. Tentei lhe avisar, você não quis me escutar.
-Calhorda. Vocês são dois calhordas.
Horácio sacou a pistola que sempre trazia consigo, e disparou na direção do irmão, depois na direção da Ruth. Ambos caíram fulminados. Calmamente Horácio pega o telefone e liga pra policia:
- Alô, é da policia?
-Sim.
- Quero lhe avisar que acabei de cometer dois assassinatos.
_Como?
- Isto mesmo. Acabei de matar a santa Ruth e o meu irmão;
-Santa Ruth? , Não amola!
Horácio desligou o telefone e saiu dali gargalhando.