A Quadratura do Círculo-cap. VI

Como poderia cogitar agir como ele? Com meus refinamentos e escrúpulos? O homo ludus sucedeu o homo faber...será? Ainda vivemos nas cavernas...Não há lugar para sonhadores...

-Eu não te entendo...não sei o que quer...

Ela nunca me entendeu. Apreciava algum poema, mas não via nada de útil nisso...

-Por que não faz uns cursos?

-Pra ser igual a ele? Nunca!

-Mas ele se deu bem...

-O que é “se dar bem”?

-Você filosofa demais; isso não enche barriga; seja mais prático...

Minha incompetência para lidar com homens ...e mulheres também; e se vivêssemos numa sociedade pré-histórica? Acho que viveríamos melhor!

Menti ali atrás; aliás, todos mentimos. O encontro com seus pais foi diferente; Paloma não é assim, aliás, nem eu sei quem sou. Quis me fazer de vítima, mas não sou coisa nenhuma. Ah, Paloma, sua ingenuidade me encantou; no fundo é como Poliedro; só você mesma para casar comigo, sem um tostão! Acredita ainda no amor, nas pessoas, na felicidade. É isso que busca em Rufino; eu sou cético demais. O encontro foi assim:

-Pai, mãe; esse é o Bartolomeu...estamos namorando...

-Prazer...

Estendi a mão; olharam-me de cima abaixo, procurando ver se eu valia alguma coisa...

-Você faz o quê?

-Estou estudando engenharia.

Menti. Não tinha um tostão no bolso e me virava pra todo lado para sobreviver. Sou de origem muito humilde. Eles eram pessoas de bem; viviam confortavelmente, numa ampla casa, meio demodê , mas impecável.

-Quando você se forma?

-Ano que vem...

-Está trabalhando?

-Estou montando um escritório...

Mentira...mil projetos tinha na cabeça, mas nada de iniciativa para colocá-los em prática.

O que eu vi neles? Gostava mesmo de Paloma? Ou queria segurança? Ela me deu atenção; não era linda , mas simpática. Que turbilhão de sentimentos contraditórios se passam em nossa mente. Ora, ninguém é um canalha absoluto ou um anjo. Não sei o que me levou a ficar com ela: cansei da vida de labutas, aflição...Amor! É algo que vem com o tempo...