BENEPLÁCITO
BENEPLÁCITO
Beneplácito era um sujeito cordato, plácido, que acreditava em tudo e todos, principalmente em Taboca, amigo de infância, que era político e sempre tivera seu voto. Taboca era seu herói, defensor dos fracos e oprimidos, um exemplo de cidadão, exemplar. Beneplácito era casado com Lisura, mulher ideal, mãe modelar, dona de casa prendada e que também rezava pela mesma cartilha de Beneplácito,
era Deus no céu e Taboca na terra.
Taboca morava em Encanto, bairro nobre, cercado de ostentação, segurança e beleza.
Era casado com Jactância, mulher esplendorosa, frequentadora de lugares charmosos e habitué dos Alpes Suíços.
Beneplácito morava em Feiume, bairro periférico, num condomínio chamado Minha Vivenda Minha Venda, cercado de inseguranças por todo o lado e sobrevivia através do programa Mochila Tranquila.
Um dia Beneplácito acordou e ao ligar a TV viu Taboca, sendo conduzido por um “japa” a caminho da Polícia Federal, acusado de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, evasão de divisas, estelionato eleitoral e outros diversos crimes. A seguir, a reportagem mostrava Jactância, lacrimosa, com cara borrada de rímel suíço, também a caminho do presídio feminino, acusada pelos mesmos crimes, menos o de ser política.
Beneplácito e Lisura ficaram consternados,
aquilo só poderia ser uma mentira deslavada, intriga de malfeitores e opositores. Resolveram ir às ruas, protestar contra a perseguição àqueles que sempre lhes ajudaram a viver dignamente em Minha Vivenda Minha Venda e com o Mochila Tranquila.
Outros milhões de Beneplácitos e Lisuras atenderam o chamamento e foram as ruas, enquanto outros Tabocas e Jactâncias continuavam a encher as burras.
E as ruas continuaram cheias de Beneplácitos e Lisuras, e os palácios abarrotados de Tabocas e Jactâncias, em um interminável desfile de alienados de todos os matizes e posses, em enredos repetitivos, de caras e bocas e carinhas e boquinhas.