HOTEL MIRA FLORES, QUARTO 301
HOTEL MIRA-FLORES, QUARTO 301
GAMA GANTOIS
Mirna era uma linda mulher por fora e por dentro. Não havia nada que desabonasse a sua conduta. Era meiga, carinhosa, sincera, honesta, um poço de virtude. Estava noiva com o casamento marcado com Henrique, um homem trabalhador, isento de vícios. Eram como diziam os amigos de ambos, as metades das laranjas que se completavam.
Naquela tarde, ao entrar no bonde na estação do Largo de São Francisco que a Levaria ao Méier, Mirna teve a surpresa de sentar-se ao lado de Heitor, a quem conhecia de vista. Este, bastante educado e gentil, foi logo puxando conversa.
-A senhora mora no bairro, pois, não!.
-Moro, sim.
-Então, somos vizinhos
-Somos sim.
- Eu a conheço de vista, mas, não sei o sei nome.
-Mirna
-- Heitor, seu criado. Casada?
- Noiva.
-Noiva? Que pena
- Que pena, por quê?
- Por que tão moça e já vai se casar disfarçou o rapaz.
Quebrado o Gelo inicial, ambos foram conversando até a hora em que tiveram de saltar. Gentilmente Heitor ofertou a moça o seu cartão de visitas, que ela educadamente guardou em sua bolsa.
Quando chegou á casa, lá estava lhe esperando, o noivo Henrique.
-Está ai há muito tempo, querido?
- cheguei há uns quinze minutos. Puxa, você demorou.
- È que fui ver o vestido de noiva. Meu filho, um vestido de noiva está pela hora da morte. Daqui a pouco não se pode mais nem casar. Ah! Sabe com quem vim conversando a viagem toda?
-Não, não sei. Com Quem?
-Com Heitor
- Com Heitor?
-Sim, com Heitor. Porque este espanto todo?
_ Meu anjo. Você é uma moça inocente não conhece as maldades do mundo. Até agora eu fui seu único namorado.
- único e definitivo.
-Eu sei querida, mas, escuta. Heitor é um cínico, um crápula, um canalha abjeto. Um sujeito que não respeita nem poste. È capaz até de dar em cima da cunhada. E tem mais. Ele só dá em cima de mulher casada. Só gosta de mulher casada. Agora você vê. Com tanta mulher desgarrada, solteira, o crápula só gosta de mulher casada, vê se pode.
-Meu filho; Esse cara deve ser um doente.
-Psicopata.
_Isto. Um psicopata.
Passado alguns dias desse episódio, Henrique volta à carga contra Heitor.
-Querida sabe em quem o crápula do Heitor está dando em cima?
-De quem?
-Da dona Margarida, a mulher do Manuelzinho da padaria
- Aquela gorda e patusca senhora, cheia vê varizes nas pernas, com os seios que vão até a barriga?
- Essa mesmo
- Mas, ela é um bucho.
-Mas, é casada. Pro pulha do Heitor basta ser casada. Não importa que seja gorda, magra, bonita, feia. A condição “sine qua non” é que seja casada.
E assim, sempre que podia Henrique malhava o Heitor, a ponto de sua noiva, Mirna, lhe pedir pra nunca mais falar daquele verme.
Finalmente o dia do casamento chegou. Mirna estava deslumbrante no seu vestido de noiva. A Igreja estava repleta. Terminada a cerimônia os noivos foram receber os cumprimentos na sacristia. Na fila, estava Heitor, que sem nenhum pudor, lascou um beijo no rosto da noiva, para desespero do noivo, Henrique.
Acabada a cerimônia dos cumprimentos os noivos partiram para a lua de mel. Esta aconteceria no hotel Mira Flores, num quarto onde poderiam apreciar o nascer e por do sol do Leblon. Quando lá chegaram Mirna disse que iria tomar um longo banho, se perfumar e colocar a camisola do dia. Sugeriu ao noivo que vestisse seu pijama e a aguardasse. Depois de esperar quase quarenta minutos, eis que Mirna surge bela e radiante. Henrique avança em direção da mulher. Esta foge, colocando uma cadeira entre os dois a fim de separá-los, e lhe diz;
_ Não vou trair os meus sentimentos nem com o meu marido. Eu amo Heitor. Abrindo a porta expulsou o esposo do quarto nupcial que de pijama foi chorar suas tristezas no meio fio da calçada; Depois, Mirna calmamente ligou o telefone:
_Alô, Heitor? Tome nota; Hotel Mira Flores quarto 301. Não demore meu amor.