O TAPA NA CARA
O TAPA NA CARA.
GAMA GANTOIS
Leonardo apareceu no bar onde era hábito sua turma se reunir e fez a seguinte pergunta:
- Vocês viram o Maldonado?
- Não aparece por aqui há muito tempo. Desde que se tornou amante da mulher do taxista, sumiu. Tomou doril.
Então, Leonardo que era taxista teve que admitir. _ Era verdade que Leonardo era amante da mulher de um taxista. Todos aqui são taxistas, inclusive eu. Essa tal amante misteriosa poderia ser a esposa de qualquer um aqui presente, até a minha disse quase gritando!
- Sossega o facho, homem de Deus. Nossas mulheres são santas, disse um taxista segurando na mão direita um copo de cachaça e na esquerda um cigarro..
A verdade era que Maldonado desaparecera sem deixar vestígios. Nem no ponto de táxis ele parava mais. A amante misteriosa mudara seus hábitos. Colocava seus encontros amorosos acima de qualquer coisa
Já na rua começou, Leonardo a pensar; - “Oras bolas”. Pelas minhas contas o romance entre Maldonado e a mulher do taxista tinha começado há seis meses, pois, este era o tempo do seu sumiço. Todos os seus amigos taxistas queriam saber quem era a tal mulher descrita pelo amante como uma linda fêmea. Alguns taxistas neste trecho da conversa coçavam a testa. Maldonado dizia muito sério: - Deus me livre eu revelar o nome da minha amada. Se isto acontecer algum dia, podem ter certeza de que serei mais um habitante da cidade dos pés juntos.
Inconformado, Leonardo continuava a buscar o amigo sem, contudo encontrá-lo. Dizia que era assunto de vida ou de morte. Mas, teve de esperar que o tempo passasse.
Dias depois, por esses acasos inexplicáveis, os dois amigos se encontram. Maldonado cansado, pois, viera de uma tarde de amor, com sua amante e tudo o que queria naquele momento era ir pra casa, tomar uma boa chuveirada, depois quem sabe, se meter num bom pijama, pra dormir e sonhar com o seu novo amor. Já Leonardo, ao contrário, queria conversar. Caminhando pela rua, Leonardo segurando o braço do amigo, fez uma pergunta de chofre:
- Responde: Você confia em mim?
Surpreso com a pergunta Maldonado respondeu que sim.
- Bem. Nesse caso você vai me dizer quem é essa mulher do taxista? Como se chama? Onde mora? Quero saber tudo, tudinho.
- Ta louco? Já lhe disse que o marido dela é violento. Não! Isto é impossível.
-Seu cretino, miserável. Não precisa me dizer, pois, eu sei tudo. Vê esse fragmento de papel? Isto é um bilhete que você enviou para a minha mulher, seu pulha.
Tremendo de medo, Maldonado pediu;
-Por favor, não me mate, não me mate.
- Matá-lo. Não! Não sou burro. Posso ser corno, burro, não. Olha aqui seu verme o que vou fazer com você até o fim da sua vida. Todas as vezes que nos encontrarmos vou lhe esbofetear. Não vou lhe dar um soco, não. Será uma bofetada com a mão aberta. A bofetada com a mão aberta dói muito, muito mais do que um murro, pois, ela é sonora. Apavorado Maldonado ainda tentou correr, mas, o outro, muito mais forte lutador de artes marciais, o subjugou facilmente. – Ainda não acabei; E tem mais. Toda a vez que eu esbofeteá-lo você será obrigado a me agradecer e me dar duzentos reais, viu! Vai agradecer pela bofetada e me presentear com uma grana. Caso contrário, dou um tiro naquela sem vergonha e depois lhe mato, entendido?
-Sim.
-Vamos começar imediatamente. Leonardo sentou a mão com uma força brutal no rosto do infeliz. Este. Depois de absorver o impacto da pancada, foi obrigado a dizer;
- Obrigado amigo pelo tapa na minha cara. Em agradecimento aqui estão duzentos reais.
- Não se esqueça. Sempre que nos encontrarmos e não adiante correr ou fugir.
Aquela bofetada doeu, mas, pelo menos não tinha platéia. Foi uma bofetada solitária.
Assim, foi à vida do pobre Maldonado a partir daquela dia. Todas as vezes que se encontravam a cena se repetia. Maldonado estava tão acostumado, que quando avistava o seu algoz já ia virando o rosto para receber a bofetada prometida e enfiando a mão no bolso para dar o dinheiro exigindo pelo marido traído e depois agradecia pelo tapa na cara. A platéia como sempre era de desconhecidos que além de ficar bestificada nada entendia do que estava acontecendo.
Certa ocasião Maldonado fora a um casamento de um amigo. Quando dançava com velha gorda, cheia de varizes, com os peitos caídos até o estomago, eis que chega Leonardo. Ao vê-lo no salão, avança até ao acovardado Maldonado segura firme o seu braço, e manda a mão na cara do outro. O alarido do tapa chamou atenção de todos os presentes. Quando todos pensava que Maldonado ia reagir ele agradece pelo tapa, enfia a mão no bolso, tira duas cédulas de cem reais, entrega ao seu desafeto . Feito isto, sai em louca disparada. Ao chegar a casa, olha-se no espelho, faz uma cara de nojo, e mete uma bala na cabeça.
A noticia da morte de Maldonado logo se espalhou. No dia do velório quando todos faziam uma oração pela alma do finado, chega Leonardo que se dirigindo para urna mortuária, começa a esbofetear aquele sofredor sem vida, e a gritar; _ Agradece pela tapa na cara sua múmia, agradece. Foi levado numa camisa de força para o hospício mais próximo. Alguns participantes do velório juram que viram o defunto sorrir. Será?